O GRITO DA ARARA REAL, Soberana de Mim, capítulo 2.



Capítulo 2



Eu já não tinha mais os olhos de uma criança. Eu era focada. Bem focada. Programas de empreendedorismo? Eu estava lá. Eu havia feito um dos melhores cursos para empreendedores do Brasil, e eu estava feliz com isso. Queria arregaçar as mangas. Colocar as minhas ideias em prática. Veio uma investidora, os jornais anunciavam a gente como a primeira editora 100% digital do Brasil. A coisa estava fervendo. As pessoas telefonavam se oferecendo para serem contratadas por nós. Elas não sabiam que a coisa estava em ruínas. Os aplicativos não vendiam nada. Mas isso era um segredo substancial que guardávamos apenas para nós. Pelo tempo que pudéssemos. Nós íamos dar um jeito naquilo, não íamos?


Minha irmã gêmea também estava na jogada. Éramos sócias. Três sócias. A terceira era uma antiga cliente minha de shiatsu que tinha decidido apostar e entrar nessa com a gente: uma empresa inovadora no Brasil. Claro, eu não queria fazer nada que fosse mais ou menos. Eu queria abalar com as estruturas. Queria livros holográficos, livros totalmente digitais. Eu queria ver todas aquelas coisas voando pelos ares, deixando as pessoas de boca aberta com tanta inovação.

Mas a pressão era grande. Grande demais, até para mim.

A pior parte, até hoje, desde que me lembro daqueles quatro anos de Editora Biancovilli, foi ver as pessoas se aproximando de mim apenas por interesse. Porque elas queriam estar perto daquela que estava se tornando uma “iminente celebridade”. Pessoas que falaram coisas duras para mim a vida inteira, agora queriam puxar o meu saco. Aquilo eu não podia aceitar. Pessoas que me amedrontaram, que me tentaram fazer desistir de tudo, agora queriam ir comigo aos coquetéis, aos eventos, aos "fervos" da sociedade. Mas, aquela técnica do Liu Shu Ming que eu usava todos os dias... pois então... o meu coração dizia "Não! Eu não vou aceitar viver nessa falsidade!"

Esse foi um dos meus grandes aprendizados como empreendedora: o quanto temos que nos conhecer, desenvolver as nossas capacidades emocionais e de relacionamento com pessoas e equipes.

Eu me lembro da assessoria de imprensa de Brasília telefonando lá para casa, nos parabenizando pelas conquistas com a mais nova editora, a queridinha de todos, e, em seguida, perguntando, "Natália, vamos falar agora de números?"

Eu tremi. Eu ainda não tinha conseguido resolver o problema das não vendas. Os aplicativos não monetizavam a empresa. Não geravam lucros. O exterior era glorioso. Nós entrávamos como VIP na Campus Party Brasil, pelo amor de Deus!!! Mas não tínhamos nem um centavo na conta. Porém as despesas chegavam todo mês. E, à medida que os meses se passaram, aliás, o anos, o desespero começou a bater na porta. Pagávamos míseros oitocentos reais aos contadores todo mês, mas isso se transformou em uma tonelada com o peso de milhões de dólares, ainda mais com uma pessoa que havia acreditado tanto, empregado quarenta mil reais de sua conta pessoal nesse sonho, mas que ainda não rendia lucro, mesmo depois de três anos e meio.

Eu sabia como manter a minha pose. Eu estava sempre bem arrumada, com a face do sucesso. Ninguém poderia imaginar o quão mal ia a nossa vida bancária. Eu não tinha dinheiro nem mesmo para custear a minha própria passagem!

Às vezes eu ria, enquanto ia de um lugar para o outro, tentando encontrar soluções para cada problema da empresa. Afinal, a vida de um empreendedora era assim mesmo, não é mesmo?

Mas aquela brincadeira eu não estava achando mais engraçada. Era da minha vida que eu estava falando! Da minha vida! E o que eu estava fazendo com ela? E o que era todo aquele circo da Editora Biancovilli? Desde quando eu tinha virado uma... uma fachada?

Foi quando, além de uma fachada, eu tinha virado também uma das coisas que eu mais odiava na vida: uma mentirosa. E foi com a cara mais deslavada do mundo que eu menti categoricamente para a repórter de Brasília do outro lado da linha: "Os números são os mais animadores possíveis. Estamos vendendo mais de quarenta mil unidades por mês do aplicativo infantil musical Brincando com o Prana, da autora Alice Domingues."

Até hoje eu não entendo muito bem porque eu fiz aquela coisa irracional. Como eu, a certinha, a mais honesta da face da Terra, havia tido a capacidade de mentir daquele jeito?

E hoje a resposta é muito óbvia: vergonha. Foi a vergonha de assumir que a empresa não tinha dado certo, na hora da pressão das perguntas. Que eu era uma boa de uma merdinha como empreendedora. Que eu era um fracasso total. Algumas pessoas da minha família tinham mesmo razão. Ah, que saudade da época que eu só atendia como shiatsuterapeuta! Eu andava pelas ruas com a minha maleta de shiatsu, e aliviava as tensões das pessoas. Usava todos aqueles óleos essenciais. Pelo amor dos Deuses, como eu precisava de uma sessão de massagem com uma boa e velha lavanda francesa agora! Mas como? Se nem a minha passagem eu podia pagar, quem diria uma sessão de massagem relaxante oriental! O pessimismo estava tomando conta de mim, pouco a pouco, e eu não tinha uma forma de fazer aquilo parar.

"Nossa, Natália. Peraí, vamos lá," dizia a repórter, do outro lado da linha. "Se você vende quarenta mil unidades por mês, e cada aplicativo é vendido por quatro dólares... então..."

Ela queria dizer "então vocês já estão ricas"... Mas ela não disse isso. Em vez disso, ela falou, brincando, "Olha, não esqueça de me contratar quando precisarem de uma assessora de imprensa, tá? Admiro muito você como empreendedora."

Eu desliguei o telefone com uma sensação que ia entre uma vontade descontroladora de rir, a uma sensação de "será que eu posso ser presa por isso?", e, finalmente, a ficha caiu, "Natália!!! Por que você mentiu???????"

Eu deitei no sofá da sala. Sim. Ainda morava com a minha mãe, e ela só reclamava. De tudo. Da vida, das filhas que não eram o que ela queria. Ninguém tinha seguido o serviço público, a estabilidade, e isso era um problema de família muito grave.

Eu deitei no sofá e comecei a lembrar do tempo em que eu estava mais feliz. Eu estava me sentindo em Z de novo, como naquela época do treinamento com o Liu Shu Ming. Eu precisava me endireitar. Por que eu estava agindo assim? A resposta veio de imediato: eu estava me sentindo traída. Traída pela espiritualidade, por Deus, pelo meu guia espiritual, Yosef Astrat. Eu podia jurar que tudo o que eu sentia e ouvia era verdade!! As instruções haviam sido bem claras! Eu estava destinada a trabalhar com livros. A levar "histórias que fizessem bem para a alma". Eu tinha essa missão de vida. Então por que é que tudo estava dando tão errado???

Ali, deitada, eu me vi na feirinha do bairro, vendendo meus produtos fitoterápicos. Sim, nesse meio tempo, antes de abrir a editora, eu havia me formado em Fitoterapia e Terapia Floral, e eu levava uma vida bem simples e feliz, montando os meus potes mágicos intergaláticos, e vendendo eles na feirinha perto de casa. Por que é que eu tive que ter uma ambição tão grande de querer abalar o mundo com a minha holografia? Por que eu não fiquei quieta onde eu estava? Assim eu não teria que estar lidando com esse fracasso tão vexatório e iminente agora.

Muito bem, Natália. O que você está sentindo agora? Raiva. Culpa. Medo. E também a certeza de que, desse jeito, não é mais o caminho a seguir. Os desentendimentos com as sócias estavam insuportáveis. Era preciso parar. Dar um passo atrás. Repensar tudo.

E o que você quer fazer agora? "Parar. Eu quero fechar a Editora Biancovilli."

Com essa certeza, eu suspirei, sentindo um tipo de alívio estranho e acalmador, e simplesmente me deixei ficar ali, caída no sofá, sem mais vontade de lutar, de lutar contra a correnteza. Eu sempre apreciara aquela disposição em mim, de ser forte como uma tigresa. Mas, naquele momento, eu queria apenas descansar. Parar com tudo. E tudo se resumia àquele ínfimo instante. Eu estava dando uma parada com tudo.

E logo o mundo ia saber disso. O meu mundo ia mudar.

Eu dei a notícia para todos. As primeiras foram as sócias, e houve um rompimento na amizade com a sócia-investidora, por conta disso. Mas a vida tinha que seguir. A sobrevivência estava aí, com seus ditames, e eu não sabia se acreditava mais nas minhas visões espirituais.

Liguei para todos os autores, emails foram disparados para a imprensa. Éramos nós mesmas que cuidávamos de todos os setores, pelo amor de Deus. Então isso foi a coisa mais fácil do mundo de se fazer.

Eu não tinha muito tempo para pensar em como eu ia dar a notícia para as pessoas, em como as pessoas iam reagir. Um certo desconforto pelo fracasso. Mas, ao mesmo tempo, eu tinha muito certo dentro de mim que isso fazia parte do processo de um empreendedor. Então era "vamos lá, bola pra frente."

Eu apenas me lembro de ter conseguido vinte reais e ter ido comprar alguns potes no centro da cidade. Voltei com oito potes que haviam custado vinte centavos cada. Afinal, a briga com a sócia-investidora nos deixou uma dívida mensal de oitocentos reais por mês, que teríamos que arcar, até fecharmos definitivamente a papelada toda, o que custaria não menos que dois mil e quatrocentos reais. Era uma quantia de dinheiro que parecia impossível de ser conseguida, mas eu já estava refeita e não estava disposta a deixar ninguém me parar. A rota ia ter que mudar, isso era certo. Mas, no momento, a única coisa que me preocupava era em conseguir pagar o contador e as contas que precisariam ser acertadas.

A Alice Domingues, autora do livro Brincando com o Prana, havia sido informada também. A resposta dela me acalmara, em meio àquele turbilhão de acontecimentos. Ela me disse, "Natália, tudo na Hora Certa. Tudo sempre Certo. Fica tranqüila."



O aplicativo ia ser retirado temporariamente da Apple Store, da Play Store, da Gradiente, da Saraiva.... Mas... “tudo sempre certo”, na opinião da Alice.

A Alice havia me convidado para ir ao espaço dela, o Cósmico, para conhecer as atividades de meditação que ela oferecia. Mas eu andava tão ocupada nos últimos quatro anos como empresária do ramo dos livros, que nem me sentia mais com tempo para nada daquilo. Aquela parte minha de terapeuta holística como que havia ficado para trás...

Eu estava voltando para casa com os potes de cremes, enquanto lembrava das palavras da Alice. "Tudo sempre certo. Fica tranquila."

Mas tranquila não era algo que eu estava. Eu estava pilhada, focada. Eu era o reverso de tudo aquilo que eu escutava nas aulas na Escola Neijing! “Tu és força! Natália, sem esforço! Deixa fluir! Tu és força! Apenas ocupe a sua verdadeira função no Universo, e tudo fluirá com facilidade,” como dizia o Professor Victor.

Alguma coisa dentro de mim me dizia que era hora de voltar às minhas origens, que a coisa mais certa que eu tinha feito era ter deixado aquele circo para trás. Era nisso que aquilo tudo tinha se transformado. E por isso mesmo a coisa tinha desandado.

Eu ia voltar a fazer o que eu amava, e ponto final! Antes eu fazia feirinha e eu não tinha um nome! Mas agora eu ia renascer. E eu não tinha muito tempo para tomar as minhas decisões. As decisões tinham que ser rápidas. Eu já estava com trinta e quatro anos, e eu tinha que acertar de uma vez por todas com a minha carreira profissional.

A vida é assim, ela vem com um tempo. E o tempo corre rápido demais.

Mas, mesmo assim, eu havia me disposto a parar. A parar com tudo aquilo que não estava mais certo para mim.

Eu tinha uma conta para acertar todo mês, e eu queria pagar com o meu próprio esforço e conquista. Eu não queria pedir nada a ninguém.

Lavei e desinfetei os potes. Deixei-os emborcados no papel toalha, para secarem. Os empreendedores de maior sucesso são aqueles que resolvem os problemas das pessoas, certo? E as pessoas gostam de ficar bonitas e ter a pele hidratada. Isso era uma necessidade de cada mulher existente no planeta. Eu conhecia muito bem as ervas e os óleos essenciais. Então eu ia fazer uns cremes muito bons para isso. E foi o que eu fiz. Criei uma série de "batidinhas", que eram cremes batidos com polpas de frutas naturais, óleos essencias (eu usei alguns que ainda tinha em casa, da época do shiatsu), babosa, e fiquei extremamente satisfeita com o resultado da minha produção, no cair da tarde.

Eu vi todos aqueles potinhos lindos alinhados, um do lado do outro, com aqueles cremes maravilhosos dentro. Eu tinha feito oito, e decidi que venderia cada um por dez reais. Assim, na manhã seguinte, eu sairia para vender os dez potes e já teria oitenta reais. Vendendo dez potes por dia, em dez dias eu teria os oitocentos para pagar o contador.

Eu precisava de um nome para a etiqueta, mas eu ainda não sabia que nome colocar. Mas tinha certeza que o nome apareceria “na hora certa” como a Alice dizia.



No dia seguinte, eu fui para a rua, andei o dia inteiro, naquele sol escaldante do Rio de Janeiro, mas voltei para casa com uma felicidade incrível que há muito tempo eu não sentia: a satisfação de vender um produto! Um produto que vendia! Afinal, qual era a mulher que diria não para um creme batido, natural, 100% natural, com pêras frescas, óleos essenciais de olíbano, lavanda francesa e teatree?? As vendas eram um sucesso total e, em poucos dias, o nosso escritório, montado na sala do apartamento da nossa mãe, tinham se transformado de Editora Biancovilli para aquela fantástica produção de potes artesanais com cremes de todos os tipos, e agora também xampus antiqueda, sabonetes líquidos chiquérrimos, gels para dor, o querido Tigre do Brasil, bálsamos labiais feitos com damascos e manteigas umectantes. Eu ia para a rua com uma maleta cheia de produtos, e voltava para casa todos os dias agora com trezentos, quinhentos, e, às vezes, setecentos reais. A coisa ficou animada, mas o estoque não cabia mais na casa da nossa mãe. Foi então que resolvi alugar uma casa que pudesse abrigar a mim, aos meus sonhos, e ao expansivo estoque da Arara Real Fitoterápicos Cósmico-Intergalático Urbanos.

Eu sei. O nome é esquisito e engraçado pra caramba. Mas é de verdade. É a maior verdade que existe na minha alma, esse nome. Eu havia sonhado um dia, enquanto procurava por um nome. Eu sonhei que estava em um escritório. Eu tinha aceitado um “emprego de escritório”, já que tudo tinha ido por água abaixo. Eu precisava desistir de pensar grande e colocar os pés no chão. Eu ia trabalhar como executiva de alguma coisa em uma multinacional.

Minha sobrinha estava no sonho, no meu colo, e me perguntou, "É isso agora, tia Naná? A vida vai ser assim agora?" Eu olhei para a Ana Célia e não sabia o que falar.

Os sonhos são estranhos. Neles, tudo é possível. Por isso que uma Arara gigante, mas gigante mesmo, do tamanho de um prédio de três andares, apareceu na portaria de entrada do prédio, abriu as asas, e fez todo o cenário se transformar em uma selva amazônica. E ela deu aquele grito dela que eu nunca mais esqueço, e que ouço até o dia de hoje, em que escrevo essas linhas, já tantos anos tendo se passado... Ela deu aquele "grito de arara" altíssimo, abriu as asas, e me olhou no fundo dos meus olhos. Aquele olhar me dizia "A força de toda essa Natureza que você vê ao seu redor (e era tremenda a força da selva amazônica)... toda essa força existe dentro de você!!!" E a Arara deu aquele grito de novo, Aaaaaaaaaaaa!

Eu olhei, confiante, para a Ana Célia, no sonho, e afirmei, "Não, Ana Célia. A vida não vai ser mais ou menos. A minha vida não vai ser assim!!! Eu não vou desistir de ser eu mesma, de ser feliz!!!"

Então, saí daquele escritório lindamente espelhado, e ganhei a selva. Ganhei a mim mesma.

Foi nesse dia, com esse sonho, que eu acordei, e sorri, dizendo, sozinha, para mim mesma, em voz alta, "Arara Real", e ri. "Arara Real vai ser o nome da minha fábrica artesanal de fitoterápicos!” Levantei da cama, animada. Fui escovar os dentes. Olhei com olhos sorridentes para mim mesma e disse, com a boca ainda cheia de espuma, "mas eu não quero um nome normal! Eu quero um nome que diga tudo o que eu sou!" Bochechei, e completei, resoluta, "A minha marca vai se chamar Arara Real Cósmico-Intergalático Urbanos!" E ri. Eu gosto, até hoje, de tudo o que me faz rir desse jeito, uma coisa que vem lá da alma, assim eu sei que estou no caminho certo, porque estou fazendo algo que quebra padrões, e que me deixa leve. Cósmico, porque tudo nessa vida é uma dança Cósmica. Intergalático, em homenagem a todos os ufos que eu já tinha visto com meus próprios olhos mortais, e também sonhado. E também porque nós somos seres interestelares tendo uma experiência na Terra. E,finalmente, urbanos, porque eu sempre amei demais a vida na cidade grande, apesar de também amar a natureza.

No dia que decidi por usar este lindo nome oficial, postei nas redes sociais o anúncio de que estava saindo mais uma fornada fresquinha de cremes batidinhos da minha fábrica. E foi por causa disso que a Alice veio me escrever, em um dos comentários.

"Por quê ‘Cósmico’, Natália?”

Eu nem tinha me tocado que o nome do trabalho da Alice era ‘Sistema Cósmico’... Ela tinha algum trabalho chamado assim. Mas, como eu disse, eu estava tão ocupada com tudo isso que narrei que nunca tinha parado nem para visitar o site da autora do livro que eu estava lançando!

Alegremente, respondi a ela, na rede social. Eu agora estava em um momento muito feliz. Alguns poucos meses tinham se passado do fechamento da Editora, e eu finalmente, depois de tanto tempo, conseguia me sentir uma empresária de sucesso. Eu tinha um produto que vendia! E que vendia muito bem. Mas muito bem mesmo. Andréa e eu agora não só pagávamos todas as nossas contas com o nosso próprio dinheiro, como agora tínhamos problemas maiores para pensar: como lidar com o gerenciamento de um estoque que crescia a cada dia, como fazer as entregas de uma forma mais eficiente? Nós tínhamos agora problemas novos em nossas vidas, mas com certeza eram problemas muito melhores dos que os que nós tínhamos no passado.

A coisa ia de vento em polpa.

Digitei "Alice Domingues" - e a rede social já marcava o nome da pessoa, para que ela fosse notificada da minha resposta. Aquilo era fantástico. Era uma evolução e tanto. "Eu uso o nome Cósmico porque nós somos seres interestelares. Com esse nome, eu quero dizer que a minha marca não é apenas uma marca. Ela é um portal interdimensional. Nós somos seres estelares. Nós somos filhos das estrelas, pó das estrelas. Nós vivemos nas cidades, mas também amamos a natureza. Por isso o nome Arara Real Fitoterápicos Cósmico-Intergalático Urbanos."

De uma coisa eu tinha certeza: eu não queria sair do artesanal. Pelo menos não por muito tempo. Eu queria sentir. Queria amar o que eu fazia. Queria colocar a minha energia, meu sentimento, em cada pote. Nada de buscar investidores e fazer a coisa toda virar uma fábrica enorme. Podia parecer uma loucura. Afinal, eu tinha criado mais de cem receitas, e tudo vendia muito bem. Mas, nem eu sabia dizer por quê ainda, mas aquele caminho ‘comercial’ não era o caminho que eu queria seguir...

As pessoas ao meu redor começaram a me pressionar. Eu tinha encontrado uma mina de ouro, a Arara Real. Era só eu tirar aquela bobeira daquelas naves espaciais, daquelas estrelas todas, e eu ia conseguir um excelente investidor. Eu ia arrasar de tanto vender. Eu ia ficar milionária. Não era isso que eu queria?

Mas, não. Tirar as naves, alterar o nome que me fazia sorrir, que me fazia achar graça de tudo o dia inteiro, não era algo aceitável para mim. Isso não ia acontecer, jamais. Podiam falar o que quisessem de mim, mas só eu sabia o quanto eu não estava disposta a viver uma fachada. Eu podia ser considerada louca, mas eu estava disposta a pagar esse preço, porque disso dependia a minha felicidade.

Então eu seguia pelas ruas da cidade, buscando novas parcerias, novos compradores para os produtos, e passava os dias falando da força do espírito, da coragem, da força, da garra, de como somos seres espirituais levando uma vida na terra, de como somos filhos das estrelas. Eu falava das flores, falava das matas, e eu já tinha visto muitas coisas milagrosas que uma babosa e uma aroeira eram capazes de fazer. Problemas de pele "incuráveis"? As minhas ervas resolviam em menos de quinze dias. Problemas de depressão, de pânico? Os florais que eu utilizava ajudavam as pessoas. Eu era um sucesso. Eu e a minha empresa. E todo mundo que estava envolvido nisso.

Mas não um sucesso magnânimo. Agora eu tinha esse novo conceito de sucesso, local, onde as minhas mãos podiam alcançar. Nada de máquinas que iriam desumanizar o meu processo. Eu nem queria ouvir falar nisso (como não quero até hoje).

Quando a Alice leu a minha resposta, ela me respondeu, lá na rede social, "Você podia usar os símbolos do Cósmico de Beleza, Rejuvenescimneto e Regeneração Celular nos seus cremes de rosto... e os de anestesia, cura e cicatrização, nos seus cremes de cura para o corpo."

É impressionante quando a Hora Certa chega, e o momento exato. E ali, naquelas poucas palavras, naquela resposta em uma rede social, ali, exatamente ali, estava a chave para tudo aquilo que eu procurava havia tantos anos, por toda a minha vida. Ali, naquele convite, que até hoje eu agradeço por ter dito sim, ali estava o início da viagem mais incrível que eu iria iniciar em toda a minha jornada aqui nesta Terra. Eu ia passar a ser uma aluna afinca do impressionante Sistema Cósmico de Tempo Real.

Já lhe aviso de antemão, caro leitor que, se você chegou até aqui, é porque você está no lugar certo, e na hora exata de entrar em contato com este conhecimento.

E eu sei o quanto você pode estar se identificando com todas essas minhas palavras até aqui, isso porque todos nós somos seres humanos, e todos nós temos dentro de nós esse nosso lado "samurai", esse desafio em aprender a lidar com as nossas emoções e, cada um do nosso jeito, temos essa vontade infinita e suprema de sermos felizes.

Embora muitas vezes ainda não saibamos muito bem o que significa isso.

(Fim do capítulo 2)



Capítulo 1 - O TUBO DE LUZ AZUL

Capítulo 2 - O GRITO DA ARARA REAL

Capítulo 3 - SOBRE A VERDADE

Capítulo 4 - OS MAPAS DO CÓSMICO