Existem.

Existem. Existem os seres da luz. Existem. Existem os seres do centro da terra. Existem. Existem os anjos dos quais falaram. Existem. Existem as fadas que pintaram. Existem. Existem os seres que cuidam das plantas. Existem. Existem. Mesmo. Mas, na sua vida, sabe o que existe? Existe o metrô. Existe o seu carro e as prestações. Existe o mecânico que cobrou a mais. Existe a passagem a R$ 3,70. Existem as contas para pagar no final do mês. E como os dias passam rápido quando se tem contas – altas - a pagar! Sabe o que mais existe na sua vida? Existe o desaforo que você não esqueceu. Existe a tristeza de uma alegria que se apagou. Existe o anel que você não recebeu. Existe o abdômen que você não conquistou. Existe o shopping. Existem as roupas, os sapatos, as coisas. Tudo isso existe. Porque você acredita, você vê. Mas e os seres da luz? E os seres do centro da terra? E os anjos? E as fadas? E os seres que cuidam das plantas? Eles morreram no seu mundo? Me diga, mas me diga de verdade, se você pode ser verdadeiramente feliz apenas com o metrô, com o preço da passagem, com o carro, as prestações, o mecânico, as contas, os desaforos, os anéis perdidos, o abdômen que teima em não ficar sarado...? Ou me diga – mas por favor me diga a verdade – se você ainda pode ser capaz de trazer de volta este colorido ao seu mundo. Se você pode ser capaz de acender um incenso bem cedo pela manhã e apenas dançar para si própria antes de sair de casa? Mesmo que seja dançar em espírito, sentada em lótus com você? Me diga! Me diga se ainda há espaço na sua vida para a felicidade, para o riso das crianças – ah, elas sabem! Me diga se ainda há espaço na sua vida para observar objetos voadores não identificados, para suspirar em segredo junto com as estrelas, jurando para si mesma que algum anjo está a te escutar? Me diga! Mas só não me diga que a sua vida vai continuar sendo este eterno cinza queimado, essas flores murchas e sem vida, essa falta de fé, essa falta de balas e jujubas na tua cozinha, essa neurose de glicose e ácido úrico! Não é nada do que você come que te faz mal. É a falta de respirar, de dançar, de ouvir música... É essa robotização da vida que altera as suas taxas.  Só não me diga... só não me diga que você não vai ao menos tentar...