PACIÊNCIA.

Rio de janeiro, 3 de fevereiro de 2012.

Querido Diário,

Eu não sei mais o que dizer para esse mundão de energia, não! O que o Universo quer comigo? Me fazer morrer de rir? Me encher deste êxtase inebriante que me invade quando um milagre desses acontece comigo?
Eu não sei, não... Só sei que essa vida é curiosa demais de se viver certos dias.

Pois bem, estava eu na segunda-feira agora no centro do Rio. Mochila nas costas, calça esportiva, blusa fresca para agüentar o verão, copo de água de côco na mão. Onde era mesmo a rua Calógeras, o balcão de informações do Sebrae? Eu queria ir lá saber como legalizar direitinho um sonho meu, pegar todos os dados etcetera e tal. Os sonhos são feitos para acreditarmos neles, e lá estava eu, mais uma vez, insistindo nas minhas convicções, na minha motivação maior de viver: espalhar pelo mundo os meus escritos. Só que desta vez não só os meus, mas os escritos de outros escrivinhadores de histórias que fazem bem para a alma.

Acho que eram umas duas e meia quando entrei no balcão de informações. A moça da recepção tinha os olhos claros, cabelos avermelhados como fogo, bochechas pintadas de um bronze verão e riscos negros finos contornavam-lhe os olhos. Ela só podia estar maquiada daquele jeito assim, naquele calor, porque estava o tempo inteiro no ar-condicionado. Quase invejei-a por estar tão maquiada enquanto eu estava com o rosto pingando de suor e devia estar com uma aparência não tão boa.

Sorri para a beleza da moça e falei, “Eu gostaria de receber informações para o setor empresarial, por favor.”

As listras negras espremeram-se em um olhar risonho e, de bom grado, a moça respondeu, “Seria informação para abertura de empresa, senhora?”

“Também, e mais algumas orientações.”

Os cabelos vermelhos caíram pelo rosto da moça enquanto ela abaixou-se para catar o formulário correto que eu deveria preencher para o meu caso. Prendeu o papel em um daqueles apoios de madeira, enfiou uma caneta azul junto e me entregou tudo, dizendo, “Por favor, a senhora preencha, devolva para mim, que depois um dos nossos consultores irá chamá-la ao atendimento.”

“Pois não,” agradeci, e sentei-me no sofá, aliviada por descansar um pouco as pernas. Ao meu lado, um senhor de terno e gravata aguardava ser chamado e, do outro, uma senhora de pele branca de fina, cabelos ruivos e olhos azuis (parecia uma estrangeira) também aguardava. Os dois foram chamados antes de mim e, depois de entregar de volta a minha ficha à recepcionista, fiquei observando cada consultor e rezando para que Deus me colocasse na mesa de um que estivesse com muito bom humor e boa vontade para me atender.

Nem dez minutos se passaram até que uma voz grave, lá do canto da sala, me chamou, “Natália Biancovilli” (meu nome de nascença, caro leitor).

“Sou eu!” levantei-me, um tanto enrolada, pegando mochila, bolsa, celular e um monte de papelada que eu tinha levado. Consegui chegar até a mesa do consultor sem deixar cair nada no chão. Eu levava comigo um monte de sonhos, esperanças, algumas conquistas e uma vontade muito grande de ser ouvida e bem orientada.

“Ô, meu senhor dos Céus! Me ajuda!” roguei, indo para lá.

O homem era de porte robusto, alto, forte. Devia ter uns cinquenta anos já. Estava com um sorriso mais amigável do que eu esperava de um consultor. “Sorte a minha,” pensei, e sorri de volta.

“Então...” disse ele, em tom amistoso. “Biancovilli... Este é o seu sobrenome, não é?”

“Sim... É...” concordei, simpática, já acostumada com a reação das pessoas a este bonito sobrenome de origem italiana. Engraçado que ultimamente eu não estava usando este sobrenome quase. Procurava evitá-lo, porque ele traz consigo uma mácula energética... foi o sobrenome da minha família, em Minas Gerais, na época em que tínhamos fazenda de escravos! E conta-se a lenda que quando da abolição da escravatura, nenhum escravozinho sequer quis continuar na fazenda do meu tataravô, de tão ruim que ele era com os escravos! Assim, a família foi à ruína, à miséria total, e somente algumas gerações mais à frente foi que alguns membros da família italiana no Brasil conseguiram se reerguer economicamente. Até hoje, entretanto (acredite se quiser!) alguns espíritos desses escravos nos apurrinham o juízo clamando por vingança e fazem de tudo para atrapalhar a nossa família de tudo quanto é jeito.

Eu já ouvi a voz de um desses escravos apurrinhados, bem aqui no corredor da minha casa. Ele grunhia, “Vingança! Vocês vão ter que pagar por tudo!” Eu falei, “Misericórdia!”, me benzi com o sinal da cruz, e fui é cuidar dos meus afazeres, aconselhando aquele espírito a achar coisa melhor para fazer.

Realmente eu não sei qual foi a escolha que ele fez, eu só sei que eu havia decidido ficar um tempo sem usar o sobrenome Biancovilli, para ver se eu teria mais boa sorte na vida. Mas, aquele estava sendo um grande erro meu, pois, por mais que se queira, não tem como se negar a sua origem nas raízes da sua origem na vida!

Então, abençoada foi esta segunda-feira no Sebrae em que eu coloquei de novo, nem sei por que cargas d´água, o meu sobrenome italiano na minha ficha, Biancovilli.

O consultor à minha frente explicou o motivo da satisfação dele, “Você sabe, minha filha, que eu tenho um grande amigo do peito que se chama L.A. Biancovilli?”

“Decerto eu o conheço de alguma forma, porque no Rio de Janeiro somos poucos Biancovillis. Com certeza é da minha família,” falei eu, repentinamente feliz com o meu sobrenome.

“Ele mora lá em Angra dos Reis...” completou o consultor.

Eu arregalei uns olhões do tamanho do céu. Opa, peralá! Um flash voltou à minha cabeça: um homem da minha família que tinha ido morar em Angra dos Reis? Parecia-me uma história muito peculiar...

Voltei no tempo... Lembrei-me do dia em que o meu guia espiritual apresentou-se para mim, bem no meio desta sala onde eu escrevo agora...

Eu havia feito uma oração, pedindo ajuda aos Céus para um assunto específico e, tão doida que eu estava, dei um prazo de sete dias aos Céus para que me desse uma solução! Ora bolas! Mas não é que o Pai foi tão compreensivo e benevolente que, na manhã do quarto dia, me concedeu uma visão espetacular?

Eis que eu acordei às oito e fui ao banheiro. Decidi vir para o sofá da sala e deitar por mais meia horinha, tamanho sono me pegara de novo repentinamente – parecia que eu ia morrer se não deitasse mais um pouco para cochilar! Quando deitei-me no sofá, meu espírito desprendeu-se do meu corpo físico e eu sentei-me. Diante de mim, havia uma bola de luz muito bonita, um Anjo!, que dizia vir em meu auxílio.

“Ora, eu não posso aceitar ajuda de qualquer espírito! Apresente-se! Diga quem você é e por quê vem me ajudar! Caso contrário, pode ir embora!” eu disse.

Benevolentemente, o espírito vibrou em minha alma, “Eu estou ajudando você há algum tempo e hoje eu vim atender a sua oração. Eu vou ajudar você.” Tendo anunciado tais palavras, fez uso de algum tipo de tecnologia astral que fez com que, da mente dele, saísse uma espécie de luz muito branca, que veio na direção da minha testa, entrou na minha cabeça, atravessando todo o cérebro, e, com isso, eu pude ver, como a um filme, cenas de minha vó – que na época ainda era encarnada – cuidando de um menino desamparado.

“A sua vó me ajudou quando eu mais precisei. Por favor, diga a ela que eu serei eternamente grato. E é por isso que eu estou aqui hoje, minha filha. Porque o amor com amor se paga e o amor se propaga!”

O meu coração pareceu que ia explodir de tanta felicidade.

“Sendo assim, eu sou muito grata a você, meu amigo, pela ajuda!” vibrei, e que gostoso que é falar só com a força do espírito!

“Qual é o seu nome, diga-me, por favor?” pedi.

“Eu sou aquele a quem você tem chamado de Yosef Astrat,” anunciou ele, e depois saiu como um feixe vaporoso de energia, indo até o relógio da cozinha, e parecendo desaparecer dentro dele.

Eu chorei, emocionada... Aquele era o “anjo” sobre o qual eu falava no livro que estava escrevendo naquela época, “Os Anjos não usam Relógio”...

“Yosef! É você!”... estendi a mão, em um ato inconsciente, como se quisesse pegá-lo, ou para não deixá-lo ir embora assim sem mais explicações, mas eis que o meu corpo físico deu um saculejo muito grande e eu me vi acordada de novo no plano físico.

Levantei de um pulo do sofá e fui procurar a minha vó Rita.

“Vó, vó! Eu tenho um recado para você!’ eu disse, contente.

“O que foi?” fez ela, curiosa. Eu falava um pouco alto demais para aquela hora da manhã.

“Vó, me diga uma coisa: uma vez você cuidou de um menininho que estava desamparado?”

“Eu não sei disso, não,” disse a minha mãe, com cara de quem não se lembrava.

“Que não se lembra o que, B! Tá desmiolada da cabeça?!” dizia minha vó, com seu sotaque mineiro. “Ela tá falando do Luis, filho do José, que morreu, e eu cuidei dele.”

“Ah, é verdade...” lembrou a minha mãe.

“Vó, veio um espírito aqui na sala agora e me mostrou você cuidando de um menino. Ele disse que você o ajudou quando ele mais precisou de ajuda, e que será eternamente grato!” falei, quase chorando de emoção.

A minha vó ficou em pé me olhando, com os olhos cheios de água. “Esse que veio falar com você foi o pai do menino. Ele morreu, o filho dele não tinha onde morar, nem a mulher dele. Eles ficaram lá em casa.”

“Ih, por mais de dois anos!” disse minha mãe.

“Isso mesmo, por uns dois anos,” confirmou minha vó. “Depois o menino ficou bem de vida e foi morar lá em Angra dos Reis! Ele está muito bem agora!” sorriu minha vó, com um brilho intraduzível em seu olhar.

“O nome do pai do Luis no plano astral é Yosef Astrat, vó! Ele disse que vai me ajudar porque você o ajudou!” disse eu, dando saltos de alegria na cozinha.

Minha vó ficou toda satisfeita e orgulhosa por, indiretamente, ainda estar me ajudando! Vê se pode uma coisa boa dessas!

Naquele dia, eu fui para a rua e, milagrosamente, o problema que eu tinha foi solucionado....

Bem, voltando a esta segunda-feira, o consultor repetia, na minha frente, “O Luis, que mora em Angra dos Reis, você conhece?”

“Olha, moço, pessoalmente eu não conheço ele, não... Mas o pai dele é o meu guia espiritual,” lancei a informação assim, sem dó nem piedade, de uma tacada só. Tinha dedo demais do Yosef naquela cumbuca para eu me manter calada! Eu estava chutando o pau da barraca, falando sem papas na língua, dizendo tudo o que sentia, como via, vivia! Isso mesmo! Nada de ficar sondando qual era a crença espiritual daquele homem primeiro para medir quais seriam as minhas palavras. Eu estava diante de uma coincidência grande demais para o meu gosto, e não estava a fim de ficar calada.

O consultor fez cara de “Hm?”

“É uma longa história,” eu disse, sorrindo feito boba, e contei-lhe resumidamente a história.

Juro para você que não soube dizer se o homem acreditou ou não em mim, mas o importante foi que eu me expressei.

Só sei que o consultor foi super atencioso comigo, me deu preciosas informações, inúmeros conselhos e soluções – que iam além das obrigações dele.

“Yosef, Yosef!!! Você é um bagunceiro!” brinquei com o meu amigo, vibrando em espírito.

Eu sentia o Yosef em pezinho do meu lado, rindo feito criança.

O consultor animou-se com a idéia do meu negócio, estimulou-me deveras, mostrou-me alguns caminhos que eu não tinha visto... Depois de um tempão de consulta, agradeci muito ao Luiz, que me atendeu, e falei,

“Se você quiser, pode ler a história do meu guia espiritual, pai do seu amigo do peito, no meu blog. A história é “O amor com amor se paga e o amor se propaga”. Ele digitou o endereço do blog na Internet e deixou aberto para ler em seguida.

“Muito obrigada por todas as informações,” falei eu, do fundo do coração, referindo-me não somente aos dados referentes ao mundo dos negócios.

“Por nada,” sorriu o homem simpático. “Foi uma alegria ajudá-la.”

Saí do balcão de informações do Sebrae com as minhas novas orientações para esta etapa do meu trabalho cá em Terra. O meu coração ia cheio de alegria e de boas expectativas, embora a minha ansiedade muitas vezes não me deixasse em paz.

“Menina do meu coração, lembre-se do que eu te disse,” soprou-me Yosef nos ouvidos. “Quando os seus cabelos crescerem até a altura da primeira curva do seu antebraço, muita coisa já estará resolvida. Tenha paciência. Paciência é uma coisa que você tem.”

“Ah, eu não tenho paciência, não!” protestei imediatamente. “De onde você me tirou isso, Yosef?” brinquei.

“Vá até esta parte do seu armário, quando chegar em casa, e veja por si mesma,” disse ele, e fez de novo aquele negócio esquisito do flash de luz branca dentro da minha cabeça, e me fez ver a parte do armário à qual ele se referia.

Eu queria ir voando até em casa para ver logo do que se tratava, mas eu não podia: tinha que seguir todas as etapas até chegar ao meu destino final daquele dia. Saí do Sebrae, passei em frente ao prédio que ruiu na Treze de Maio, rezei pelos desencarnados, encontrei meu amor na Rio Branco quando ele saía da dentista, dei um beijo nele, segui o meu caminho, peguei um ônibus rumo a Irajá, desci no Largo do Bicão, andei até em casa, subi as escadas, procurei as chaves, abri a porta, fui até o quarto, abri a parte do armário que o Yosef tinha dito. Nem sede eu sentia, nem fome, nem vontade de ir ao banheiro, nada! Só queria ver onde estava a resposta para o que o Yosef havia me dito: eu, euzinha, era um ser dotado de paciência!

Quase aflita por encontrar aquela resposta que tanto me confortaria, comecei a tirar, um por um, todos os meus antigos escritos do armário. Eram vários cadernos-diário que eu havia escrito e guardado de recordação. Alguns, já em forma de apostila-livro, outros, ainda em forma de caderno com espiral mesmo. Um deles, o de aparência mais antiga, pequeno, preto, com espirais prateadas, daqueles tipo R$ 1,50 que a gente compra na papelaria para andar com um bloco de notas na bolsa, me chamou mais atenção.

Abri-o, e surpreendi-me com a data já tão distante, “2003”.

“Nossa... Eu não lembrava que tinha tanto tempo que eu tinha começado a escrever as minhas histórias-livro...”

O Yosef manteve-se calado, mas eu sentia que ele ainda estava ao meu lado. Deixou-me ver por mim mesma e tirar as minhas próprias conclusões.

Folheei até o final do caderninho e encontrei um parágrafo assim: “Meu primeiro caderninho cósmico está quase chegando ao fim.” Vi a data, de 2003 já tinha pulado para junho de 2004.

Levei a mão ao peito e sorri. Não sei te dizer por quê fiquei tão emocionada... Mas foi assim que me senti. Com aquele caderno nas mãos, lembrei de todas as vezes que eu repetia para mim mesma que eu queria escrever “histórias boas para a alma”. Eu me via escrevendo, muito feliz, e via as pessoas lendo as histórias e sentindo grande bálsamo em seus espíritos com as leituras...

Contei nos dedos, “2003, 2004, 2005, 2006, 2007, 2008, 2009, 2010, 2011, 2012. Quase nove anos de trabalho! Daqui mais um pouco, completo dez anos de escrevedouro!” felicitei-me.

“Viu só, Yosef? Eu escrevo há quase dez anos já, e só agora eu vou colocar as minhas histórias na Internet!” falei, em voz alta, mesmo sabendo que ele não precisava da vibração do ar nos ouvidos sutis dele para ouvir-me.

“Eu sabia há muito tempo, Yosef... Que a Atma não iria escrever sozinha... Que eu ia escrever com muitas pessoas... E que, juntos, iríamos enviar todos esses causos bonitos para o mundo... Eu só não sabia como seria, Yosef... Por quê esta parte da missão vocês não me avisaram com antecedência, já que tantas outras coisas vocês já me disseram como vai ser?”

“É porque, minha filha, não se mete a mão na cumbuca que desanda o bolo.”

“Hã?” indaguei eu, sem entender direito.

“É apenas um velho ditado mineiro,” brincou ele, e as moléculas sutis que o compõem sacudiram-se tanto que entendi que ele estava rindo.

“Eu não sabia que eu teria uma editora...”

“Você também não sabia que você tinha paciência.”

Olhei de novo para o caderninho preto, um Organizer da Tilibra, que trazia a palavra “anotações” embaixo. Abri de novo na primeira página, e vi lá “2003” e, de repente, entrei em uma festa interna de comemoração pelos meus dez anos de trabalho que viriam! Felicitei a mim mesma, me abracei, me beijei várias vezes em espírito. “Atma, Atminha, parabéns! Parabéns a você e à sua irmãzinha gêmea Angélica! Vocês merecem uma grande festa de comemoração!”

“Talvez esta festa seja o lançamento mundial da sua editora, minha filha,” sugeriu Yosef e sumiu daquele jeito vaporoso que ele gosta de fazer. De novo, estiquei os dedos tentando impedi-lo de ir, mas os espíritos desencarnados são muito mais desapegados do que eu.

“Poxa, Yosef... Fica mais um pouquinho...”

Só que, de repente, o quarto todo estava em festa, e eu vi vários espirais de luz na minha direção, de todos os amigos que nos acompanham em nossa missão da Atma até hoje: Pai Cipriano, João Mineiro, Liu Shu Ming, e tantos outros que eu nem sei ainda o nome! Eram vários pontinhos de luz coloridos que vieram fazer festa comigo!

Que festa mais esquisita, Diário, sem bolo nem nada. Eu estava sentada no chão, com um monte de papéis ao meu redor, com o corpo todo sujo e suado, um pequeno caderno preto na mão que é para mim o mais valioso tesouro, mas aquelas luzes... pareciam como fogos de artifício nas noites de Reveillon em Copacabana.

“Obrigada, meus amigos... Muito obrigada..” agradeci.

“Você nunca está sozinha. Você é muito amada,” vibraram as luzes coloridas. “Abençoado seja cada dia seu nesta Terra. Abençoado seja o dia de cada homem desta Terra que vive com amor no coração.”

Eu cheguei a me deitar no chão de tanta emoção, e me nutri de reler aquele caderninho... em uma das páginas, encontrei o seguinte, “Rio, 07 de junho de 2004. Vejo um jovem mendigo no centro da cidade. São 10:20h. Lá está ele deitado de barriga pra baixo, cabeça levantada, repousando nas mãos. Um travesseiro. Uma coberta por cima. Cabelos cheios tipo reggae. E pensei “Meu Deus, o que será que está passando pela cabeça daquele homem? Como ele se sente? Sempre que eu passo aqui de ônibus, lá está ele deitado, cada vez de um jeito. Ele está com certeza deprimido. Gostaria de ajudá-lo, mas me sinto impotente perante esta cena. Será que ele já enlouqueceu? Será que dá para ajudá-lo? De qualquer maneira, eu não desceria naquele beco sozinha. Precisaria da ajuda de um homem... ou 2 homens, melhor.” (na mesma folha) “Meu primeiro caderinho cósmico está chegando ao fim.” (na mesma folha) “Observações físicas: preciso de um casaco novo. Mas os mendigos precisam de TUDO.”

E, de uma hora para outra, eu senti que eu podia estar precisando de algumas coisas, mas que, graças um bom Deus, tudo o que eu mais precisava na vida eu já tinha para dar e vender!

Fui até o banheiro e medi a altura dos meus cabelos: estavam quase chegando nos ombros agora. Calculei mais uns dez meses até que eles chegassem no ponto onde o Yosef havia me falado...

“Paciência é uma coisa que você tem, sim, dona Atminha!” falei, toda prosa, olhando-me no espelho. “Quem disse que eu não tenho paciência? Tenho, sim! 2003, 2004, 2005, 2006, 2007, 2008, 2009, 2010, 2011, 2012...”

E aquele passou a ser um mantra para mim, desde então: “Eu tenho o tesouro da paciência dentro do meu coração. E tudo na vida precisa de um tempo certo para chegar ao seu destino. O objetivo maior da vida não é chegar a lugar nenhum, é o presente de cada dia.”

Amorosamente,

Atma.