Hoje acordei mais cedo que de costume, às sete da manhã. Geralmente eu trabalho até tarde da noite, produzindo ou escrevendo no silêncio da noite, e acabo trocando um pouco o dia pela noite. Nada grave: durmo às duas e acordo umas oito ou nove da manhã. Mas agora isso vai ter que mudar um pouco, porque toda quarta e sexta terei aula de Tai Chi Chuan na pracinha.
Hoje foi meio doloroso acordar às sete. Não consegui dormir tão cedo ontem à noite. Era uma da manhã quando me deitei. A cabeça martelava com algumas preocupações, pressentimentos e pensamentos. Deitei-me ao travesseiro e, de relance, pensei ver uma luz forte violeta envolvendo todo o meu rosto. Que luz bonita... Fechei os olhos e pude vê-la com ainda mais força. No fundo da imagem, uma visão esclarecedora... Agradeci ao Cósmico pela visão à distância e dormi mais tranquila, conseguindo me desvencilhar das faixas de energia mais conturbadas.
Estamos em um período em que muitas alterações estão acontecendo. Muitos sentimentos sendo remexidos. Coisas antigas vindo à tona. Acesso automático ao inconsciente coletivo. É preciso estar centrado e saber o que é seu e o que vem dessa onda de energia inconsciente. Não se pode andar distraído. Também não é para viver tenso. É simples: apenas ouvir o coração.
Tem gente que pensa que faz isso. Mas vive uma vida de enganação, assumindo papéis que outros escolheram para ela. E acham que são felizes... Aí um dia a verdade do coração vem à tona e a pessoa se vê em um mar de frustração. Também não tem problema nenhum. Tudo são escolhas, momentos, aprendizados, experiências. Tudo na nossa vida é completamente temporário e efêmero... E, como o ar, não adianta tentar agarrar nas mãos uma só coisa. Não se prende o ar na palma das mãos. Não se prende nada em sua vida que não queira ficar. Com as mãos abertas, o ar pode fluir ao redor de sua mão. Todo o ar. Vindo de todos os lugares. Isso é muito mais completo que querer prender um tiquinho de nada de ar na mão. Pense nisso quando você se afligir ao sentir que está perdendo alguma coisa. Essa coisa (objeto do seu desejo) é apenas um grãozinho de areia ínfimo perto de todas as possibilidades etéreas.
Ontem eu caminhava sem estar assim tão distraída quanto parecia, e seguia o fluxo de minha intuição, o que me levou diretamente até o grupo de Tai Chi Chuan de uma praça perto de minha casa. Aproximei-me e, ao final da apresentação deles, perguntei como fazia para participar do grupo. Me disseram que eu poderia ir hoje. Só não ia ter muita aula, porque era aniversário de cinquenta anos de uma participante do grupo. Mas não tinha problema, eu estava convidada para a festa do mesmo jeito e, antes do bolo, eu iria receber uma demonstraçãozinha do Tai Chi.
Então, por mais que o meu corpo pedisse para continuar deitada hoje às sete da manhã, não dei atenção a ele e levantei mesmo assim. Fui ao banheiro, tomei um banho, escovei os dentes. Bebi um copo de água, visualizando aquela energia líquida limpando todo o meu corpo. Tomei minhas 30 gotas de chapéu-de-couro. Peguei um gengibre, espremi, bebi o leite. Fiz uma careta. Bebi mais um gole de água para tirar o gosto do gengibre da língua. Comi uma banana. E fui escolher minha roupa.
Procurei uma calça preta soltinha que tenho de algodão, mas não estava disponível. Coloquei então uma outra, um pouco mais esportiva, preta com listras brancas do lado (tipo Adidas) e uma blusa branca de algodão. Mas estava frio. Peguei um casaco roxo que era da minha vó e vesti. Peguei também uma touca da minha irmã gêmea. Fiquei sem nenhuma porque doei tudo para Teresópolis quando houve o deslizamento. (Preciso comprar outra.) Ainda não tenho a minha sapatilha preta de Tai Chi, então calcei o meu sapatênis branco mesmo, que é bem confortável, um dos poucos sapatos que não me dão bolha. Parece até que estou descalça com eles. Poxa, só iam faltar os brincos longos prateados para balançar com o vento ao praticar o Tai Chi. Mas não tem problema. Depois eu providencio isso. Coloquei uns brinquinhos miúdos mesmo, mas que uso sempre: são dourados, de ouro, com uma pedrinha rosa clara brilhante. Acredito que não sejam brilhantes de verdade, mas são os meus brincos preferidos. Mas, na hora do Tai Chi, são outros brincos que eu vou usar.
Fui até a sala, já arrumada, cabelo penteado. Quis deixa-los soltos. Estou deixando crescer de novo, então quando estiverem mais longos estou pensando em usar uma trança bem longa na hora do Tai Chi. Com certeza combina. Onde mesmo eu tinha deixado as telas para dar de presente? Ah, sim. Estavam em cima da mesa, do lado do cartão do Tai Chi que a Beth tinha me dado ontem. Peguei as duas telas, coloquei em uma bolsa de papel mais ou menos bonita que encontrei no armário, e saí. Estava meio frio na rua, e me arrependi de ter molhado os cabelos no banho.
Fechei a porta da sala e fui caminhando até a praça de Irajá. Não sentia fome, apesar de ter comido bem pouco. Não costumo sentir muita fome pela manhã. Subi a Gustavo de Andrade, olhando todas as árvores que foram plantadas. Como estão ficando grandes... Uma iluminação me veio: “Você pensa que fez alguma coisa. Você pensa que você plantou essas árvores. Você se sente responsável por elas. Sente-se mesmo como se elas fossem suas. Porém (sempre tem um porém!)... porém, observe mais iluminadamente o que foi que você realmente fez para que elas estivessem hoje aí... Você e sua irmã fizeram um movimento inicial, gerando uma onda de energia... Começaram a conversar com os vizinhos, compraram as pás, o primeiro saco de terra, a primeira muda... Mas e depois? Depois foi tudo com a Prefeitura. Veio o técnico japonês, gente boa toda vida. Ele trouxe toda a equipe. O pessoal da Parques e Jardins verificou se tinha tubulação por debaixo da calçada, onde podia, quebrou tudo, fizeram buracos, jogaram a terra, enfiaram as mudas. A responsável pela Fundação tomou a frente de tudo. Ampliou o projeto. Quis multiplicar. Mandou fazer camisa. E nós? Vocês apenas tiveram a idéia inicial... Agora as árvores estão todas aí... Plantadinhas... Firmes. Não são mais miúdas... E não são suas... Você não deveria sentir-se tão orgulhosa de ter plantado essas árvores. Elas não são suas.”
A iluminação não me chateava. Era bom ver as coisas sob outro prisma. Acho que eu sofro muito de posse na minha vida. Eu quero me livrar disso. Quero ter uma percepção mais livre e realmente segura. E, como eu disse antes, tentar segurar o vento na palma da mão só te faz escapar o ar mais ainda. É preciso abrir as mãos, para sentir o Qi (a energia) vinda de tudo que é lugar... Não somente dali...
Olhei com renovado olhar para os seres verdes. “É... Vocês não são minhas... Apesar de eu sentir a responsabilidade que tive por hoje vocês estarem aqui... Como vocês se sentem, não sendo mais minhas?”
As árvores pareceram nem se mexer. Então falei, “Vocês são lindas! Sou muito grata por vocês estarem aqui! Sou muito grata por vocês existirem!” (Ah, que alívio! Consegui sentir gratidão genuína!)
Aí sim as árvores responderam, sacudindo-se todas em milhares de bolinhas de energia.
Até agora não entendi. Não é para entender mesmo. Que coisa chata querer entender tudo na vida. Prejudica o baço, sabia?
Então eu ia caminhando para a minha primeira aula de Tai Chi e levando as duas telinhas. Sem entender o que o Tai Chi era na minha vida. Sem entender o que esperar dali. Eu deveria esperar alguma coisa? Sabe que eu não queria? Não queria esperar mais nada, para depois não me frustrar em falsas expectativas. Eu só estava indo curtir aquele único dia no Tai Chi.
Passei o Guanabara e já podia avistar a praça de Irajá. Aquele monte de gente mais velha lá, arrumando uma mesa para o parabéns. Eu nem sabia ainda o nome da aniversariante. Fui me aproximando, tentando andar mais devagar. Eu olhava o pessoal do grupo, mas também estava encantada com o cantar dos pássaros. Gente, como Deus estava inspirado quando criou essas criaturas! O piado deles é agradável, piu, piu, piu! Faz um bem pra gente ouvir...
Antes mesmo de eu dar a volta na grade e entrar para o pátio do Tai Chi, algumas senhoras já me viram e acenaram para mim, já cheias de energia às oito da manhã. Será que a minha cara estava muito amassada de sono? Não devia estar, não, por causa do leite do gengibre que dá a maior energia.
“Olá, bom dia...” cumprimentei.
“Olá! Seja bem-vinda,” cumprimentou-me Beth, a comunicadora do grupo.
“Olá, olá...” acenei para as outras senhoras que estavam no pátio. Umas arrumavam uma mesa com um tecido vermelho. Vi que elas levaram salgadinhos, bolos e quitutes. Xi, eu não sabia que era para levar nada... Pelo menos eu tinha um presente, para não chegar assim de mãos abanando.
“Beth, quem é a aniversariante?” perguntei.
A Beth apontou para uma moça que estava perto das escadas de cimento ao lado do pátio (onde o pessoal senta se quiser assistir o Tai Chi). Era uma moça mesmo, não tinha cara de senhora. Usava cabelos soltos, óculos escuros, o uniforme do Tai Chi. Já me recebeu sorrindo. (Que pessoal simpático!)
“Oi, Beth. É o meu primeiro dia hoje. Soube que era aniversário de alguém. Eu não te conhecia, mas quis trazer um presente. Espero que você goste,” disse.
“Oh, que bonito!” disse Ana, a aniversariante.
“Gente! Mais uma artesã no grupo!” anunciou a Beth, mostrando o presente que eu tinha levado.
“Que primorosidade...” elogiou uma senhora (essa com cara de bem senhora mesmo, cabelos todos branquinhos e rosto bem enrugado).
Olhei para ela e sorri. Dava para perceber que ela já tinha bastante idade mas, juro, quanta energia. Quantos anos ela teria? Eu nem precisei perguntar, ela mesma foi se apresentando.
“Bem-vinda ao grupo, Atma. O meu nome é Joana. Eu faço Tai Chi Chuan aqui há dez anos!” disse-me, satisfeita.
“Nossa, que legal...”
“Eu tenho oitenta e sete anos de idade,” contou-me.
“Nossa... Com toda essa energia!!”
Joana sorriu. Ela não sabia, mas eu estava associando a imagem dela a uma joaninha, para não esquecer o nome. Já tinha Beth, Ana, Joana. Joaninha seria bem fácil de memorizar.
A Joaninha continuou a falar, enquanto estávamos sentadas na escada do Tai Chi, esperando o resto do grupo chegar. “Eu estou meio baqueada, sabe? Porque o meu marido morreu. Nós estivemos casados por sessenta e cinco anos. Me casei com vinte e quatro. Criei seis filhos e dezoito bisnetos! Então, foi um pouco difícil para mim... Está sendo... Mas... eu tenho que reagir. Eu quero reagir! Então voltei a sair de casa. Andei uns dois meses em casa, mas agora estou me forçando a sair. Voltar para o Tai Chi Chuan...”
A Joaninha gostou de mim. Ficou o tempo todo conversando comigo enquanto esperava o pessoal chegar. Eu não estava deslocada, não. Tinha muita gente em volta. Eu sentei do lado da aniversariante. As coroas lá são bem animadas. Mas a Joaninha e eu fizemos amizade. Eu, a mais nova, com trinta e três, e ela, a mais velha, com oitenta e sete.
“Imagino que deva ter sido muito difícil para você, Joana... Quando o fenômeno da morte chega...” falei. “Ontem mesmo, eu recebi uma notícia terrível: um coágulo estourou na cabeça de uma criança, filha de uma amiga minha. Espero que dê tudo certo... Ainda não tive notícias... Mas, para a gente ver... para morrer basta estar vivo. A morte faz parte da vida...”
“Oh, uma criança tão pequena...” sentiu-se Joana. A coluna dela era bem ereta. O corpo magro, esguio. O uniforme de Tai Chi era caprichado: sapatilhas pretas de veludo, calça preta daquelas bem esvoaçantes, camisa comemorativa de dez anos de Tai Chi Irajá. Os cabelos, bem branquinhos. O olhar sincero. Um sorriso franco. Estava com a cara meio triste. Mas, quando tinha estímulo, abria um sorriso. Em meio a toda aquela dor da separação, ela se esforçava para voltar a sorrir.
Fiquei imaginando o quanto a filosofia de vida do Tai Chi a deveria estar ajudando agora...
“O meu marido era uma figura!” contou-me Joaninha. (Pausa para um detalhe: eu estava o tempo todo sentada, enquanto esperava o pessoal chegar, mas a Joaninha ficou de pé em frente a mim o tempo todo, vibrando com os braços em perfeita energia e harmonia. Não é daquelas velhas nervosas e agitadas cujo campo áurico chega a incomodar. Não! Ela tem energia, e de sobra, mas uma energia boa de sentir...) “O meu marido não queria que eu viesse fazer Tai Chi, não,” ela contava e ria. “Porque aí eu não estava em casa com ele, e ele sentia a minha ausência.”
Alá. Tentando prender o ar na palma da mão. Joaninha é ar. Ar da vida! Não é para ficar presa na palma da mão do João! Joaninha é ar, é Tai Chi, é vida! É solta feito passarinho!
“Ele era ciumento que só!” Joaninha ria, saudosa. “Tinha vezes que ele ficava me espiando aqui no Tai Chi, lá do final da rua. Ele pensava que eu não estava vendo ele, não. Mas eu ficava aqui, tranquila, praticando o meu Tai Chi. Aí eu dava um jeito de chegar por detrás dele, batia nas costas dele e perguntava, “Tá me vigiando?” Ele ficava todo desconcertado, dava uma desculpa, e voltava para casa comigo.”
A Joaninha não parava mais de falar do marido dela. Eu queria dar um jeito de mudar de assunto. Não por estar me incomodando. Ao contrário, estava gostando de ouvir as histórias. Mas era por ela... Para ela desfocar o pensamento dele por alguns instantes. Isso aconteceu quando outras senhoras do grupo começaram a chegar. Uma lhe trouxe uma santinha, embrulhada em um pedaço de papel pardo.
“Aqui, ela tem uma coroa. Depois você encaixa a coroa em casa,” explicava-lhe uma das senhoras. Joaninha agradeceu pelo presente.
Aí começou uma movimentação tão grande. Eu olhava tudo. Gostava de tudo. Vi que estavam colocando salgadinhos na mesa, perto do bolo. Hm... Aí me deu fome. O bolo era daquele tipo que vem todo cortado já em papel de alumínio, um pedaço para cada um. Vou falar a verdade, nunca gostei muito disso. Mas... Até que esse estava bonitinho, porque foi todo arrumado em uma caixa bem bonita. Trouxeram refrigerantes, suco (ainda bem) e mais refrigerantes. Se eu pudesse, mandava jogar todos os refrigerantes fora. Beber isso, de manhã?? Tudo bem, eu não ia me meter nisso. Ainda mais sendo nova no grupo.
Movimentação para cá, movimentação para lá. Quando eu vi, tinha um monte de gente em pé no pátio, todos enfileirados, uns atrás dos outros organizadamente, com espaços de mais ou menos dois metros entre eles. Ia ter aula de Tai Chi? Quem era professor? Não tinha ido, dor de dente. Os alunos mais antigos iam puxar uma aula para “aquecer”. Adivinha quem estava bem lá na frente? Claro, ela, a Joaninha! Do lado direito dela, uma outra moça de cabelos castanho-escuros encaracolados, que tinha um ar bem sério, estilo samurai chinês. Gostei. Do lado esquerdo, dois senhores.
Fiquei sentada na escada de cimento, sem saber se era só para eu assistir dessa vez, ou se era para levantar e participar. Uma senhora gordinha que estava sentada do meu lado me salvou, “Você é nova no Tai Chi?”
“Sou. Hoje é o meu primeiro dia,” respondi.
“Então levanta, garota! Vai lá fazer a aula! É só olhar e imitar tudo o que eles estão fazendo. Não se preocupe se não conseguir acompanhar. Hoje é só o primeiro dia!”
Levantei de um pulo só e escolhi um lugar bem no final, onde ainda tinha espaço. À minha frente já haviam se formado cinco filas com umas seis pessoas em cada uma para as laterais, e umas oito pessoas desde a frente até o final. Gente pra caramba!
De onde eu estava, eu podia ver bem os movimentos da Joaninha. Seria ela a minha primeira professora. “Observar o mestre e copiar os seus movimentos,” pensei. É um bom método de aprendizado, sendo a primeira etapa.
Alguém ligou um aparelhinho de som no pátio, com música chinesa tipo linguelinguelim. Para mim, até achei que estava alta demais, porque estava me atrapalhando a ouvir o som dos pássaros. E a música não era desagradável de todo. Na verdade, tinha tudo a ver com a prática do Tai Chi.
O pessoal começou. Levantaram as mãos, fizeram uma espécie de comprimento, com a mão direita fechada e a mão esquerda, por cima da primeira. Parecia um movimento de desafio de luta. Lembrei-me da minha época no Tae-kown-do, com o mestre Ernandes... Bons tempos... Como eu era a mais medrosa! Não sei como consegui ganhar aquela medalha até hoje... Eu costumava dizer para mim mesma que eu ganhava no grito. É. Na hora do kihabe. O kihabe é aquele grito que você dá na hora que está começando a luta. Para mim, era o momento que eu assustava a adversária. Era tiro-e-queda... Imagine eu, na época, uma mocinha de quinze anos, cabelos compridos presos em um rabo-de-cavalo, cabeça raspada até metade da nuca. Eu gostava desse visual para combinar. Quando eu fazia esse penteado e vestia o meu dobô, eu ficava de arrasar. Ainda passava batonzinho e tudo. Eu era da equipe vitoriosa do Ernandes! Eu não gostava de lutar, porque me dava uma dor de barriga tremenda antes de todas as lutas durante os campeonatos. Mas a minha abertura era total, meus chutes eram altos, mas eu tinha os meus pontos fracos, como não saber socar. Com as pernas, eu tinha muita agilidade, mas socar... Não saía! Porém (mais um porém), o meu maior ponto fraco mesmo era o medo... O medo... ai, que medo que me dava! Eu azucrinava com a vida do Ernandes. “Eu só luto se você ficar aqui comigo!” eu implorava.
O Ernandes tentava me explicar que eu podia ficar sob a assistência do Mesquita (meu namoradinho de adolescência, grande companheiro!), mas eu não aceitava. Tinha que ser o Ernandes. Só ele me passava a confiança para a hora da luta. O Ernandes queria mulheres na equipe. Tinha que ser mais compreensivo com a gente. Nós tínhamos TPM. Usávamos batom! (Você acredita?!) Éramos mais sensíveis. Então, ele sempre cedia e acabava ficando comigo. Na época, foi a melhor escolha dele mesmo. Porque senão eu simplesmente não iria ficar. Não haveria luta.
Lembrei de todas as cenas minhas no Tae Kwon do... Achei muita graça da minha histeria na hora da luta. Ah, se eu pudesse voltar no tempo... voltar naquele cenário... agora, aos trinta e três anos... Eu me enfiaria de volta no meu corpo, agora já mais madura, e veria tudo aquilo ao meu redor com outros olhos... com outra energia... Eu não temeria mais o estádio. Não temeria mais as minhas adversárias “com cara de brucutu”. Não tentaria desfilar por elas, antes da luta, com um ar da mais fingida confiança, para amedronta-las. Tudo bem, eram uma espécie de técnica de luta que adotei. Mas hoje vejo que eram técnicas de medo. Medo que eu mesma sentia! Eu faria tudo bem diferente! Medo eu não me permitiria! Veria a luta como um momento tão passageiro... Alguns rounds de um minuto e meio. O meu olhar não ficaria vidrado na hora do kihabe. Eu não enviaria para a minha adversária uma energia para apavorá-la. Eu apenas me defenderia e agiria para não deixar que ela se aproximasse de mim e fizesse pontos. Eu agiria como o Grande Mestre, filme que vi recentemente e um dos que mais gostei na vida. O Grande Mestre foi professor do Bruce Lee. Ele era um mestre verdadeiramente da energia. Porque ele estava bem consciente, o tempo todo, de cada gesto, de cada movimento... Isso fez dele invencível.
Agora, passados tantos anos sem praticar Tae-kwon-do, ali estava eu na praça, com o pessoal do Tai Chi. Não era mais a lutadora da equipe, que andava com o casaco escrito “vencedora” ou “número um”. Eu era uma desengonçada aluna nova de Tai Chi que aprendia os meus primeiros passos imitando a minha nova mestra, Joaninha.
Eu estava disposta esta manhã a me livrar de todo o medo em minha vida. Nunca mais hei de ter crise de rim! Esse medo vai sair todinho... Eu pensava. Já saiu, já saiu...
A Joaninha começou a levantar os braços, depois do cumprimento inicial da “luta”. Mas levantava tão devagar... Meu Deus... Os meus braços já estavam lá em cima! Na hora de descer com os braços, me esforcei para ir mais devagar, acompanhando aquele ritmo novo...
Não estou desmerecendo os novos, não, mas dava para perceber nitidamente a diferença dos gestos da Joaninha dos demais. Só tinha duas outras pessoas do grupo, mais novas, que se mexiam com tamanha graça e leveza: essa senhora de cabelos castanhos à direita da Joaninha, que já mencionei, e um outro senhor, magrinho, que se parece demais com Mahatma Gandhi. Mas se parece tanto, tanto, que parece que fizeram um clone dele e deixaram ali com a gente na praça do Tai Chi.
Mas eu não queria desfocar a minha mente. Ficar olhando tudo. Não. Eu queria sentir a energia. Então, apenas durante os segundos iniciais eu observei os demais praticantes do grupo, para depois me concentrar totalmente apenas na Joaninha.
As mãos subiam vagarosamente... Eu imitava, já conseguindo acompanhar o ritmo. Engraçado falar de acompanhar um ritmo tão lento, né? Geralmente a gente pensa que tem dificuldade para acompanhar os passos de algo muito acelerado. Mas... vai tentar acompanhar algo bem lento para ver! Ainda mais para quem vive na cidade grande, não é fácil de primeira, não. Comigo levou alguns minutos para eu realmente me integrar na harmonia dos movimentos.
Depois das mãos subindo e descendo em frente ao corpo, os braços começaram a ir para os lados, como se estivesse carregando uma grande bola de energia. Eu imitava, e ficava com o pescoço meio torto, porque tinha que virar o tronco para o lado, mas tinha que continuar olhando para a minha professora.
As mãos vinham para a esquerda, trazendo a bola de energia... Voltavam para a direita, levando a bola de energia... Algumas vezes, a Joaninha fazia uns movimentos que eu não conseguia imitar, então eu ficava meio parada, só olhando, mas logo dava para continuar.
Aí veio um passo que eu gostei: a Joaninha levantou as mãos feito uma arara, dobrou um pouco o joelho esquerdo, e subiu com a perna direita, tudo muito devagar, mantendo a perna no alto por alguns segundos, enquanto começava a descer com ela novamente. “Gente... Oitenta e sete anos...” pensei. “Com toda essa agilidade e leveza...”
Agora era a outra perna: perna direita dobrada, levantar a perna esquerda, com os braços abertos no ar... É preciso equilíbrio para conseguir fazer isso bem devagar. A perna vai bem no alto... Eu consegui me equilibrar melhor na perna direita do que na esquerda e tive dificuldade em fazer esse movimento de pernas tão devagar. (Os meus antigos chutes no Tae-kwon-do eram extremamente velozes.)
Ficamos uns dez minutos ali. O semblante da Joaninha estava tão bonito fazendo o Tai Chi.... E as mãos? Pareciam tão leves, feito plumas no ar... Me deu vontade de chorar. Aquela emoção, aquela energia... Lembrei também da minha vó, dona Rita. Ah, se ela tivesse vindo fazer Tai Chi Chuan... Teria ficado ágil assim, feito a Joaninha... Mas a gente não pode comandar a vontade dos outros... Ah, não! Eu não ia chorar feito uma estranha na hora do Tai Chi! Segurei o choro. Controlei a energia. Levei a minha consciência até o meio do meu estômago e comandei: “Segura essa energia!” E passou a vontade de chorar. Eu continuei emocionada com aquela sintonia... Contente, feliz da vida! Mas... o controle das emoções é tudo na vida.
Veio o final da sequência do Tai Chi. A mulher ao lado da Joaninha virou para nós e falou, “Vamos repetir tudo de novo.” Virou-se para frente de novo e recomeçamos. O cumprimento no ar, as mãos subindo e descendo... Bola de energia para um lado e para o outro... Pés de garça, braço de arara... Respiração... Harmonia...
Eu me sentia tão bem... Pensei que a aula ia terminar, porque tínhamos o bolo mas, que bom!, não tinha terminado ainda não. Separaram a turma em dois grupos, depois desse aquecimento inicial. O grupo dos antigos ia fazer a “sequência vinte e quatro”. Eu deveria ficar no grupo dos novatos, com o Ademar (o parecido com Gandhi). Gostei.
“Você é nova também, não é” perguntou-me Ademar, para iniciar conversa.
“Sim, eu vim aqui ontem e...” Ele fez cara de que se lembrava. “Quero aprender. Começo hoje.”
Ainda tinha outras duas pessoas novas, Marli e uma outra que não sei o nome, mais senhoras também. O Ademar deve ter seus sessenta anos. Não sei. Esse pessoal engana a idade. Bem magro, cheio de agilidade também. Fala mansa. Olhar tranquilo.
“Bem, gente, hoje eu vou ensinar para vocês os movimentos mais simples do Tai Chi Chuan,” começou Ademar. “Eles são os mais simples, mas são a base do Tai Chi. Uma vez que você domine estes movimentos, então estará seguro para ir para etapas mais adiante.”
“Que legal! Que legal!” eu pensava.
“O primeiro movimento que nós vamos aprender é a saudação,” tornou Ademar. “Você coloca a mão direita fechada assim, e repousa a mão esquerda por cima. É diferente do movimento para iniciar a luta, quando a mão esquerda fica bem na frente do punho direito, avisando que se iniciará um conflito. Ao repousarmos a mão esquerda na direita, estamos em uma atitude de ausência de conflito...”
“Ah, não era um cumprimento de luta...” pensei.
“Vamos fazer junto comigo?” sugeriu Ademar, e nós, cerca de dez novatos, o imitamos. Com os pés unidos no chão, pernas esticadas, coluna bem reta, subimos com os braços direito e esquerdo na altura da cabeça, e unimos o punho direito à mão esquerda repousada por cima da primeira. Ademar fez uma leve inclinação com o tronco para frente, o que também imitamos.
Repetimos o movimento umas quatro vezes, e depois o Ademar virou-se para nós novamente. Ele sorriu. “Sabe? Eu gosto de imaginar que os meus braços são de algodão quando eu faço Tai Chi... Veja como o algodão se move lentamente quando agitado pelo ar... Ele é leve...” Ademar falava, e fazia movimentos leves e suaves com os braços e com as mãos. “Observem que o pulso deve ficar bem solto... as articulações não devem ficar rígidas...” disse ele, e fez alguns movimentos de leva e trás com as mãos, que ficaram parecendo umas ondinhas de mar agitadas levemente por um sopro de fim de tarde. Com certeza ele percebeu a irradiação da alegria em meu olhar. Ele estava satisfeito comigo e com os demais novos alunos.
“O Tai Chi Chuan nos reintegra ao ritmo da Natureza,” continuou Ademar. “Observem que, na Natureza, nada acontece rápido demais. É tudo devagar... Uma árvore não cresce rápido, de um dia para o outro. Você nem vê a árvore crescer, porque é muito devagar. Mas ela está crescendo, o tempo todo,” falou ele.
Pensei em coisas rápidas da natureza, como o trovão, o raio, os movimentos bruscos dos vulcões, mas não quis interromper. Eu deveria esvaziar o meu copo e ouvir o que o professor tinha a dizer.
“No nosso corpo acontecem muitas coisas o tempo todo. São coisas que a gente nem tem consciência. Mas estão acontecendo. Tudo é vida e consciência. O nosso corpo é um universo, e tem uma consciência. Cada parte do nosso corpo sabe direitinho o que tem que fazer. Você não precisa comandar as suas funções vitais. Elas têm uma vida, uma inteligência, uma consciência!” dizia ele.
“Opa, tô gostando desse assunto...” pensei.
Ademar olhou para mim, e eu fiquei tentando fazer cara de “estou concordando com tudo o que você fala”. Ele percebeu e, satisfeito, continuou.
“Vocês já ouviram falar em chakras das mãos?” ele perguntou.
“Sim! Eu já ouvi!” falei. O Ademar ia continuar falando mais alguma coisa, mas o horário já estava adiantado, e tínhamos a mesa da aniversariante esperando pelo parabéns. Foi a Beth quem chegou no nosso grupo e anunciou, “Gente, desculpa interromper vocês, mas o nosso horário já está pedindo...”
Todos se viraram para ela, mas Ademar ainda me falou mais algumas coisas. “Você já viu um mestre, um mestre mesmo de Tai Chi? Ele faz assim com as mãos...” – Ademar fez um movimento como se jogasse uma bola de energia invisível para a frente do corpo dele – “um mestre de verdade faz assim e afasta o oponente sem nem mesmo tocar nele, tamanha a destreza que ele tem em controlar essa energia...”
“Ah, eu já ouvi falar nisso...” falei. “Você já assistiu aquele filme lindo, O Grande Mestre?” perguntei. Mas o Ademar nem me respondeu, porque umas outras alunas vieram falar um monte de coisas com ele. Uma abelha se aproximou do grupo (não estou usando de analogias, era uma abelha mesmo! E bem grande!) e fez um zumbido no rosto das pessoas. As alunas novas se sacudiram todas e tentavam, em vão, espantar a coitada da abelhinha mas, em vão. Também, com aqueles movimentos tão desajeitados e sem concentração, nunca que elas iam acertar o alvo! O Ademar, com a maior classe, levantou aquele braço de algodão-Ta-Chi-Chuan e, juro!, enquanto continuava conversando com as alunas, fez um movimento certeiro, pegando a abelhinha bem com a palma da mão, e gentilmente conduzindo-a para fora do campo de visão deles! “Caraca!! Igualzinho o Grande Mestre, professor do Bruce Lee! Gostei!” Ahah! Quem diria, aqui numa pracinha do subúrbio, em Irajá!, que eu ia encontrar um mestre assim tão bom!
Mas nenhum dos meus maravilhosos mestres de hoje eram o professor de verdade, não. Ele não pôde vir, como eu disse, por causa de uma dor de dente terrível. Foi para a dentista. Parece que vai ter até que arrancar a raiz e enfiar no lugar um dente novo (de porcelana). Os meus mestres de hoje foram os alunos antigos: a Joaninha e o Gandhi-braços-de-algodão.
Observando a movimentação da energia, deixei para conversar com o Ademar depois e fui para a mesa do bolo. Hm.... Salgadinhos! Que delícia! De que seriam? Poxa, parecia ser tudo com carne...
“Olha, gente! Esse aqui é o quibe de soja do Ademar,” falou Beth.
“Ah, que bom! Eu também sou vegetariana!” falei, e peguei logo dois bolinhos. Nossa, estavam tão saborosos...! Peguei um pouco de suco de pêssego também, comi um bolo de banana integral com açúcar mascavo. Tudo delicioso. Mas não comi muito... O meu alimento estava sendo o Tai Chi Chuan, estar com aquelas pessoas.
Veio o parabéns. Êêê!! Parabéns pra você! Nesta data querida! Muitas felicidades! Muitos anos de vida!
Hora do discurso: o pessoal levou um momento de reflexão, um discurso em homenagem ao aniversário de cinquenta anos da Ana.
O texto caiu como uma luva para o momento que eu estou vivendo hoje. Não me lembro das exatas palavras, mas era algo assim:
“Se a frustração bater à sua porta hoje, olhe para trás e veja quantas vitórias e bons momentos você já alcançou...” Quem lia era uma senhora alta e negra, que também tinha pinta de ser antiga no grupo. Ela tinha uma excelente impostação de voz, e a postura de uma verdadeira deusa. Era engraçado o jeito que ela mexia o pescoço enquanto lia o discurso. Ela marcava o texto com a mão, para que pudesse dar pausas na leitura e levantar o olhar para olhar bem fundo nos olhos da Ana enquanto terminava a frase. Ai, meu Deus! Já vi que eu ia chorar! Segura, estômago, essa emoção!
“Se a solidão sussurrar palavras amargas em seus ouvidos, lembre-se de quantas infinitas possibilidades lhe trazem cada dia, cada hora, cada minuto de sua vida!” continuou a deusa negra.
Pronto, chorei.
“Se as desilusões e as amarguras lhe ferirem o peito, lembre-se de quantas infinitas bênçãos você teve e ainda terá para agradecer!” Nessa hora, a deusa fez um movimento muito mais saliente com o pescoço, levando-o para trás feito um chicote, e voltando com a cabeça para a frente em um movimento ligeiro, mas não brusco – o que deu bastante dramaticidade ao momento.
“Sacanagem.. Não tem como não chorar assim...” pensei, e levei a mão até a boca para disfarçar o beicinho. Parecia que o negócio era para mim! Ontem à noite mesmo eu estava pedindo a Deus para aprender a agradecer mais! A perceber as bênçãos recebidas! E hoje um texto desse... “Estômago, controle-se...” E fui controlando o choro... Olhando para as árvores... agradecendo... agradecendo por estar ali... agradecendo porque os pássaros existem... agradecendo por eu ter tanta saúde, ser tão linda e inteligente, cheia de amigos, cheia de maravilhosas possibilidades na minha vida. Os pequenos empecilhos, ah, é verdade.. São tão pequenos...
Depois do discurso, a aniversariante leu algumas palavras também de agradecimento. Estava todo mundo lá agradecendo muito. Foi uma excelente aula de agradeciento para mim. Tudo o que eu mais queria. E eu comecei a mudar a minha energia internamente também, agradecendo, agradecendo, agradecendo.
Quis comer mais quibe vegetariano. Ia pegar logo dois de uma vez para enfiar na boca. Mas peguei um só. “Vou fazer igual o pessoal do Tai Chi... copiar o mestre...” Peguei apenas um, devagar, enfiei-o na boca e fiquei sentindo-o espalhar-se lentamente pela minha boca enquanto eu fazia um movimento de girafa contínuo, nhaaam, nhaam, nhaam... Gente, há quanto tempo eu não comia assim, tão devagar! Como o quibe era delicioso! Delicioso mesmo! Eu não precisava comer dez para me saciar. Eu estava, realmente, satisfeita com aquele um que eu estava experimentando.
Depois fiquei conversando com a outra novata, a Marli...
“Eu vou comprar uma sapatilha preta, e você?” perguntei. A Marli estava usando uma sandália bem inapropriada para a ocasião. Depois, eu queria engolir o que tinha dito. E se ela não tivesse dinheiro para comprar uma sapatilha?!
“Ah, eu vou comprar uma sapatilha também!” falou ela, animada. “Vou comprar umas calças pretas também, para vir para a aula. Já encomendei a minha blusa de dez anos de Tai Chi. E você?”
“Ah... eu... não sabia que tinha que encomendar. Quero uma, sim, com certeza? Você sabe quanto custa?”
“Vinte reais,” informou-me Marli. “Baratinho, né?”
“É... Baratinho mesmo,” concordei. E fomos andando até a Beth para encomendar a minha.
“Ô, Beth, eu também quero uma camisa do Tai Chi. Eu posso escolher o modelo que eu prefiro?” pedi. Tinha gente com uns quatro tipos diferentes de blusa lá, mas eu gostei mais de uma que tinha um símbolo do Yin e Yang onde, em um dos lados, tinha um enorme tigre bem colorido. “Eu quero uma igual a essa, com esse tigre,” falei, apontando para a camisa de uma outra aluna, chamada Lurdes.
“Eu vou ver com o professor se ele ainda tem dessa,” prometeu a Beth. Combinamos assim. Fiquei de voltar na sexta-feira, para mais uma aula de Tai Chi. Já eram vinte para as dez, eu tinha que voltar para casa para fazer umas coisas. Um grupo ainda continuou lá na praça para uma aula com os leques. Eu queria continuar ali, sentar e ficar assistindo, mas hoje realmente eu tinha um compromisso aqui em casa às dez e quinze...
Despedi-me do pessoal e vim andando para casa. Agora o casaco roxo me pesava, o sol abriu. Está fazendo calor hoje. Vim trazendo a touca na mão. Tentei vir andando devagar, para não sair do ritmo do Tai Chi.
Mas nem tudo na vida precisa ser tão devagar. Eu escrevo rápido. Minha digitação é como um raio, ou uma flecha. Meus dedos ficam aqui ligeiros nos teclados. É por isso que eu escrevo tanto em tão pouco tempo. A energia vem, e eu deixo fluir. E a energia vem assim, quase que na velocidade do pensamento. Essa é a minha natureza no momento de escrever. Eu sou assim. Assim o Tao pensou as minhas aptidões para mim.
Mas aí a história acaba. O fluxo vai cessando. É hora de se despedir do Diário. Ir fazer outras coisas. Comer. Lavar a louça. Trabalhar de tarde. Descansar. Estudar. Fazer minhas coisas no computador...
E assim a vida vai indo, vai indo... E o espírito vai se desenvolvendo devagarinho... feito a árvore da Natureza que o Ademar falou... A gente vai crescendo em força interior, sem nem ir percebendo... Quando a gente vê, a gente já virou uma árvore bem bonita... que vai viver, viver, e que depois vai morrer.
A morte faz parte da vida. Mas o espírito não morre, não. Isso também é lei da natureza. O espírito é leve feito algodão. Não tente prender o ar na palma de sua mão. Deixe o algodão fluir, voar para onde tem que ir... O espírito de todas as coisas pertence tão somente ao Universo.
Atma