Minha querida Neijing
2011
O DIÁRIO DE ATMA- MINHA QUERIDA NEIJING capítulo 8 (2011).
Rio, 19 de fevereiro de 2011. Sábado.
08:10h. O sol está bem quente. Está cedo, mas o burburinho aqui na sala de aula já vem adiantado.
“O cara tinha esclerose múltipla e estava acamado há meses. Gastava mais de dois contos por mês. Com seis meses de Qi Kong, o homem já ficava sentado na cadeira! O médico tinha dado menos de dez meses de vida para ele. Com um ano de terapia, o velho já estava de pé,” comentava um aluno, que é instrutor de Qi Kong. Estava sentado com um grupo de alunos perto da porta. Eu não estava muito perto deles, mas eles falavam um pouco alto e eu podia ouvir entrecortes da conversa deles.
“Tudo é controle da energia,” comentou o outro, entusiasmado com a história da recuperação do velho.
“O instrutor pegava na lombar do velho e movia a energia ali...” continuava o instrutor de Qi Kong, mostrando com gestos o modo maravilhoso como o Qi podia ser manipulado em benefício do organismo.
Gosto dos assuntos que correm na sala de aula. Alguns aproveitam que o professor Victor ainda não desceu e estão revisando a matéria da aula anterior. A última aula foi há dois meses, em dezembro, então é bom dar uma refrescada na memória. Eu estava com saudade daqui.
Ai, que cheiro bom! Hm... É uma colega que sentou-se perto de mim. Ela me mostrou um óleo que ela preparou para usar nas pacientes dela (ela também é Shiatsuterapeuta), uma mistura de rosa amarela com um óleo da granado. Sinto-me animada com as novas perspectivas para a minha vida profissional este ano...
“Buenas! Tudo bom!” saudou-nos o professor Victor, entrando na aula, cheio de energia. “Vamos meditar, relaxar?” sugeriu ele. “Desencostem da parede. O importante é a coluna estar ereta, que ela mantenha a verticalidade dela,” instruiu, e todo mundo ficou espichando a coluna, ajeitando as pernas.
“Entrez, s´il vou plait, monsieur,” disse o professor a um aluno que chegava. Ele deu sorte de poder entrar, porque ainda não começamos a meditação. Senão ia ter que ficar esperando lá fora. Somos agora vinte e sete alunos, mais o professor.
“Como eu posso ser capaz de mover o Qi de alguém se eu não sou capaz de ficar dez minutos quieto?!” indagou o Victor, estalando o dedo três vezes, alertando-nos. “Os que mais se mexeram são os mais jovens e fortes! Vocês precisam ter disciplina! Vocês vão pegar uma agulhinha muito pequena para mover o Qi... Mas vocês precisam ter a força da disciplina para serem capazes de mover o Qi de alguém – não da força física!”
“Mas não é fácil ficar parado por dez minutos. A perna fica dormente,” queixou-se um aluno.
“Deixa a perna dormir!” retorquiu o professor. “Cada um vai arranjar uma desculpa. Vamos ver isso na matéria de hoje: as desculpas que vivemos formulando. São só dez minutos. É muito pouco. Dói o joelho. Então, desconecte-se da dor do joelho! A coluna cansa e vai ficar insuportável. Eu já falei que vocês podem colocar uma almofada. Fiquem quietinhos na hora da meditação, senão o monstro da barba vem te pegar!” ele fez piada depois da bronca, enquanto puxava a própria barba para baixo, feito um pirata.
Risos da turma.
“A idéia é vocês começarem a fazer isso diariamente. Com esse exercício de respiração, você está movimentando tudo o que o Universo pensou para você. Juan Qi, Zhong Qi, Jing Qi. Vocês precisam ter disciplina.”
“Sábado passado eu tive aula do sistema Moodle. Eu terei como controlar onde vocês acessaram, quais artigos vocês leram, quais aulas baixaram. Vocês também vão poder fazer fóruns e chats entre vocês. Eu vou começar a fazer fóruns com vocês. Vou pedir a paciência de vocês, pois essa será a primeira turma que usará o moodle. Vou pegar os arquivos das aulas anteriores e postar lá.
“Legal,” pensei.
“Vamos recapitular a aula passada,” anunciou o mestre.
(Xi, não gosto dessa parte.)
“Se eu pegar o Qi de uma maneira geral, ou seja, sabendo que o Qi é um só, que muda de nome segundo a sua...” (ele deu um espaço de tempo para ver se alguém completava).
“... função!” respondeu uma aluna.
“Muito bom,” ele ficou satisfeito.
“As energias que criam os seres humanos estão divididas em dois grandes grupos: hereditárias ou adquiridas. Hereditário é tudo o que você ganha antes de nascer. Adquiridas são as que você ganha depois de nascer,” frisou o professor.
Explicações revistas no quadro sobre Yuan Qi. Zong Qi. Jing Qi. Jing Qi. Ying Qi. San Jiao...
“Quando o estômago se debilita, ele vai buscar energia no baço,” disse o Victor. “Quando o baço fica debilitado, ele busca energia no Rim. O Rim, na Bexiga...”
(Nossa! Quantos cruzamentos o Qi faz...)
Shen. Pan. Gan. Fei. Dan...
“De oitenta pessoas, eu não tenho cinco pacientes que sejam obedientes. Eles não têm paciência para seguir um tratamento para casos crônicos. Quando desaparecem os sintomas, a pessoa some das sessões. Mas a raiz crônica continua lá. Também é difícil fazer com que eles sigam as orientações simples: não pisar no frio, parar de fumar.”
“E a maconha?”
“Shen Nom fala do chá da maconha, empregada para abrir o apetite para quadros de estresse. Esse era o emprego que se dava. A questão é a quantidade. E você não pode continuamente ficar tomando um remédio,” explicou o professor.
O aluno que havia feito a pergunta rabiscou alguma coisa no caderno dele. Obs: Não sei se escrevi Shen Nom do modo correto.
“Uma coisa que eu não entendo é fumar no Rio de Janeiro,” continuou o Victor. Primeiro porque aqui já é um calor do caramba! Segundo, sabe-se lá que droga que você está fumando aí! Esses cigarros químicos contêm até pólvora para ele não apagar e para acelerar o consumo dele! Pólvora! O problema não é o tabaco, mas sim os aditivos. Já percebeu que quem fuma uma marca de cigarro quando fuma outra não se satisfaz? É porque, muitas vezes, a substância em que ele se viciou é diferente no outro cigarro. Ele não é viciado no tabaco, mas sim nos aditivos. Tudo o que a gente faz deve nos dar prazer. Tudo. E fumar deve ser a mesma coisa. Vá procurar um fumo de qualidade. Sem aditivos. À medida que você gosta de uma coisa, procure produtos de qualidade. E tenha prazer na hora de fumar! Fume em pequenas quantidades. Relaxa. Agora, você vê alguém fumando com prazer, relaxado? Não! O que você vê é a pessoa fumando enquanto faz um monte de outras coisas. Gosta de fumar? Então estude sobre o tabaco. Estude sobre o tabaco cultivado nas zonas marinhas. Ou sobre o tabaco cultivado em altas altitudes. Tem toda uma especialidade sobre o tabaco. Pare. Sente. Enrole o seu tabaco de boa qualidade com calma. Pare. Desfrute! Tenha prazer!”
“Essa é a diferença entre o prazer e o vício,” comentou um aluno.
“Quando chegar um paciente fumante, você tem que ter uma conversa desse tipo com ele. O problema não é o cigarro, é o produto de má qualidade que ele está fumando. Se o cara fuma e não tem estresse na vida, faz o que gosta, o cara terá uma saúde de ferro,” disse o professor.
(E o modo obsessivo como ele está fumando feito um louco.)
“E o cara não tem prazer nenhum. É um teórico prazer imediato. É preciso mudar a relação com o cigarro: a) parar de fumar; b) fumar menos; c) fumar tabaco de qualidade e ter prazer ao fazê-lo,” concluiu o mestre. “É como as relações psico-afetivas: para que se tornem saudáveis, é preciso que você mude como você se relaciona.”
O professor perguntou se alguém tinha um leque para emprestar e uma aluna emprestou um que trazia na bolsa. “O paciente vai chegar na consulta assim,” disse ele, mostrando-nos o leque fechado. “Você irá abrir um leque para esse paciente. O mundo é isso aqui, ó,” disse ele, apontando para o leque, que agora estava aberto e mostrava todas as suas ramas, revelando-nos repentinamente um belo bordado nas pontas, bem como um desenho finamente decorado no tecido interior.
(Que leque bonito!)
“Por exemplo, o leque é um instrumento masculino na China. Vocês sabiam?” perguntou o professor. “Lá são os homens que o utilizam. Entenderam? O mundo é amplo. É preciso abrir a visão. É como o caso do meu paciente que foi gay mas não queria mais ser gay. Eu disse a ele que então voltasse a ser hétero. Por quê não? Ele ia ser o primeiro ex-viado que eu conheço, mas...”
“Não existe ex-viado.”
“Ah, tem, sim!” garantiu a menina que havia emprestado o leque.
“Nossa, você falou com tanta propriedade!” brincou o professor.
“Não é a toa que ela é que tinha o leque,” brinquei. Falei em voz alta e todos rimos bastante.
“Qual é a função da energia adquirida?” o professor trouxe-nos de volta à matéria mais densa.
“Preservar a energia essencial,” respondeu o rapaz que está sentado ao meu lado.
“Nota onze!” elogiou o professor, e deu um puxão nos cachos da frente da cabeça e depois ficou enrolando-os. Parece que ele faz isso para refrescar a região da testa, porque assim enrolados, os cachos se agrupam e ficam mais fáceis de serem empurrados para trás, deixando a testa mais livre. Não deve ser fácil para um gaúcho aguentar o calor do Rio...
10 horas. Pausa para o café. Vou ficar escrevendo.
Minha paciente Larinha está indo para o Tibet. Nossa, vai ser uma viagem mágica. Ela ficou de trazer uma mandala tibetana para mim.
A essa hora a Angélica (minha irmã gêmea) está dando aula de inglês. Ela estava um pouco triste, porque um nenén de um ano e meio morreu afogado lá em Miguel Pereira essa semana. A Ana Cristal (minha sobrinha) caiu e ficou com um galo na cabeça. Estavam andando de bicicleta. E pensar que o Eduardo (pai da Ana Cristal) tinha me proibido de levá-la para passear de bicicleta, achando que eu ia deixar ela cair. A gente nunca sabe a hora que a roda da vida vai girar e nos fazer partir... Ontem, quando eu estava indo atender a Larinha, o moço da kombi estava enfezado e, sem paciência com o engarrafamento, quase subiu a calçada, e nisso derrubou uma ciclista. A moça desapareceu de repente do meu campo de visão e caiu feito pedra na calçada. Poderia ter morrido ali naquela hora mesmo. Mas não morreu. Não era a hora. A Ana Cristal podia ter morrido com um tombo daquele da bicicleta. Tudo é tão efêmero. Essa nossa vida na Terra é um sopro. Nós nunca sabemos quando nem como vamos deixar esta manifestação material. Vai ser bom ganhar uma mandala tibetana. Para eu me lembrar sempre dessa transitoriedade da vida. Eu gostaria de conversar sobre isso com a minha vizinha lá do prédio. Ela está com depressão porque ela atropelou um menino. Um rapaz, aliás. Sei lá como foi. Sei que o carro pegou ele e ele txum, desencarnou. E ela se sente muito culpada. Essa culpa está arrasando com a vida dela. Gostaria de poder ajudar. Tentei passar um fitoterápico para ela tomar, mas ela disse que tem um monte de alergias. Ela queria ser minha amiga. Não haveria problema, apesar de ela ter idade para ser minha vó. Eu tenho várias amizades com pessoas bem mais velhas do que eu. O problema foi que ela só gostava de fazer coisas que eu não gostava: ver televisão o tempo todo, por exemplo. Aí não teve como manter a amizade. Não me culpei por isso. Nós simplesmente não temos afinidades... Eu até tentei passar um dia ou outro vendo novela com ela, mas não dá para mim. Aconselhei ela a procurar a companhia da minha mãe, que também gosta de assistir novela. Mas parece que cada uma quis ficar sozinha no seu canto. Espero que a Zezé se cure desse sentimento de culpa. Afinal, o processo saiu a favor dela, que ela não fez nada de errado. Estava na mão certa, esperando o sinal abrir. Quando chega a hora de partir, Zezé.... Chega a hora de partir... Rogo ao Universo que ela se sinta mais calma.
“Curar é diferente de sanar,” anunciou o Victor, dando início ao novo tempo de aula. “O Dr. Padilha é detestado na França. Ele conheceu um chinês, que foi professor dele, quando estava na faculdade de medicina. Depois, o chinês morreu. Ele viajou para o Vietnã e para o Sul da China. Dessas cidades pequenas... nesses lugares, geralmente só tem um Acupuntor que trata de todo mundo. O Dr. Padilha ficou sentado na porta desse especialista durante uma semana (especialista em ventosas). Durante os seis primeiros dias, o especialista chegava e mandava o Dr. Padilha ficar esperando do lado de fora. Um dia, finalmente, ele disse, ‘já que você esperou, você entra’. O homem trabalhava com poucas agulhas e muita ventosa. Porque era uma região com muita umidade. Ele levava uns carrinhos daqueles de restaurante, cheios de diferentes tipos de ventosas: ele tinha o fogo, as ventosas de bambu, de barro, de vidro. Tudo depende do interesse da pessoa. Vamos ver o quanto você realmente quer...”
Circuito da energia Yon. Hora do sol poente. Hora do sol nascente. São diferentes da hora do relógio. O professor está fazendo um desenho no quadro, para explicar a influência do Qi em cada parte do corpo de acordo com o caminhar do sol pela abóbada celeste. Olha só que interessante...
Ah, Diário, estudar Medicina Oriental é muito mais observar do que teorizar! É fazer o que se tem que fazer. Cumprir o seu desígnio. É muito mais do que tão somente os pontos de Acupuntura... A minha medicina é muito mais essa fluidez de escrever... O meu dever aqui é muito mais falar sobre esse povo, os Sanadores. Nós vamos te falar da lua, das estrelas, de respiração, do fluir do Qi... De rir, chorar. De deixar o seu corpo exprimir a harmonia das emoções. Nós vivemos os nossos sonhos e te ajudamos a cumprir o seu destino!
Só de ver o Victor dar aula é ter uma aula de Sanação.
“A cor do coração é magenta,” disse o professor, enquanto eu terminava de escrever a frase acima.
(Tenho certeza que o meu coração está exatamente dessa cor agora!)
5 cores. 5 reinos. Cores dos Zang Fus. (Muito legal!)
“A cor branca não fica com nada. Ele reflete todas as cores. É como um homem que já tem cabelos brancos. Ele já se doa todo. Já é a idade de se tornar um professor,” disse o Victor. (É a fase do ancião.)
Movimento do Qi nutritivo. O professor nos pediu licença e saiu da sala por alguns minutos. Ao voltar, trouxe consigo um fio e pediu que cinco voluntários fossem para o centro do tatame. “Eu quero que todo mundo preste atenção aqui,” pediu ele. Ele deu um nó no fio para transformá-lo em um circuito fechado. Fez com que os alunos ficasse em torno do círculo, segurando o fio.
“O circuito da energia é fechado. Não tem espaços vazios. Quando a energia baixa, a quantidade baixa. O Pulmão é o mestre da energia.” (O professor respira com força, dramatizando a energia do Pulmão.) “Quando está no horário do Pulmão, ele fica com toda a sobrecarga do Qi. É a plenitude do trabalho. É das três às cinco da manhã (horário do sol, não do relógio). O Pulmão é o que mais sofre: ele sempre auxilia algum outro órgão, mas quando é o horário dele, ele faz o trabalho sozinho, e trabalha em dobro! (Ai, que bom. Finalmente entendi, em parte, o que significa plenitude.)
Estou com vontade de ir ao banheiro, mas não quero descer agora, para não perder conteúdo de aula. Vou me concentrar e testar a minha vontade.
“É a Terra que nutre o Metal. Retira a umidade da Terra e joga no Pulmão. O melhor amigo do Pulmão é o baço. Mas é o Fígado que dá a energia Yang para o Pulmão. Tem também o aspecto da psique do Pulmão: a tristeza, quando não se renova, tornar-se uma desarmonia,” explica o professor.
Meio-dia. Estou muito apertada para fazer xixi. Ai, ai, o professor vai recapitular a matéria sobre o Wei Qi. Vou perseverar em minha força de vontade. Não que-ro per-der au-la!
Recapitulando toda a matéria...
Pausa para o almoço. Aleluia! Vou fazer xixi!
São 14h. Estamos de volta do almoço. Alguns alunos tentaram entrar com copos de café no tatame. O professor Victor já falou mais de mil vezes que não pode. Ele está colocando para fora os alunos infratores, com seus copinhos de plástico. Deu para notar que ele não queria tomar essa atitude, mas foi necessária para mostrar quem é o líder no controle. Afinal, nós precisamos aprender a respeitar uma autoridade.
Agora o Victor está contando que uma vez mandou um paciente fazer um curso de palhaço. Porque para tal paciente tudo era ridículo. O curso iria ajudar no tratamento. Interessante... Será que o homem fez mesmo o curso?
Estão comentando agora que, há muitos anos, os médicos haviam decretado a Acupuntura como bruxaria e charlatanismo. Dez anos depois, o mesmo grupo de médicos quer que a especialidade “Acupuntura” pertença somente a eles. Palhaçada!
Chong Mae. Jing Qi. Natureza da energia defensiva. O Wei Qi é como um chafariz que aflora e retorna. Hm... Entendi. Circuito noturno do Wei Qi...
Agora o professor está sentado no meio da sala falando mais sobre o Wei Qi (energia defensiva do sistema). “A não ação é uma ação: é uma maneira de se manifestar,” disse ele.
O som do bonde forçou todo mundo a fazer silêncio. “A não ação é uma ação...”
Tem quatro meses que o Victor não usa mais celular. (Desde a festa dos Piratas.) Eu também não suporto celular. Parece que está pesando em mim. Parece uma energia esquisita. Por isso, o meu vive muito mais desligado do que ligado. Fora que acho o email muito mais prático: respondo a hora que posso e quero.
Fogo perverso. Dispersar o calor. Calor-umidade. Frio. A relação do homem com a Natureza é muito íntima: a natureza nutre os nossos órgãos!...
“Aceite quem você é. Não fique tentando se modificar,” disse o professor. “Seja você mesmo. Seja a sua natureza. Aperfeiçoe-se naquilo que você É.!”
O professor está contando sobre um paciente que dizia que queria ser escritor. Porém, ele dizia que ainda não havia começado a escrever porque o PC dele não era bom. Mas ele ia começar assim que comprasse um laptop. O homem economizou e comprou o laptop. Mas aí viu que não dava para escrever. Tinha quer ser mesmo era um netbook, daqueles pequenininhos, para que ele pudesse levar para todo lugar. Ele sempre projetava, só que nunca realizava. “Então, será que ele realmente queria escrever?” indagou o professor. “Será que ele realmente gostava de escrever? Ele tinha mesmo paciência para ficar quatro, cinco, oito, dez horas sentado escrevendo? Ou ele simplesmente achava cult escrever, e tinha uma falsa vontade de ser escritor?”
Logo reconheci as mentiras que o tal paciente falava para ele mesmo, porque quem gosta de escrever o faz em tudo que é lugar: em mesa de restaurante, rabiscando em guardanapo; na fila do banco, antes de dormir, ao acordar, no intervalo do almoço... Hoje mesmo eu vim de pé no metrô lotado, e agarrei uma das minhas pernas no ferro para me segurar, para poder continuar escrevendo no meu caderno. Não eram palavras importantes demais. Não era nada que não pudesse deixar de escrito. É que, para mim, escrever é bom demais e eu gosto de praticar esta atividade o tempo todo. O dia que eu não sento para escrever parece que fica faltando alguma coisa.
Ou seja, aquilo que uma pessoa vive dizendo que ama fazer mas nunca faz, ela deve perguntar a si mesma se realmente é aquilo que ela ama...
16:30h. Pausa para o café.
17:00h. Volta à aula.
Canais principais. Canais profundos. Vasos maravilhosos. Vasos intermediários. Vasos secundários. Mestre da Energia. Mestre do Coração. Pontos de conexão. Equilíbrio do sistema. Nossa, que interessante o sistema dos nossos canais de energia!! Conecta aqui, nutre ali, deságua lá, volta por ali... O professor vai falando e desenhando traços e setas, para o nosso vislumbre e surpresa. Que mágica arquitetura!...
“Peraí, professor. Fale um pouco mais devagar, por favor” eu pedi.
Pacientemente, ele repetiu as informações anteriores, voltando a explicar os traços e as setas. Tudo de novo. Depois, anunciou:
“E, com isso, eu faço um resumo para vocês...” finalizou o professor Victor, recebendo aplausos entusiasmados da turma.
Com amor,
Atma :))