Existe um outro livro sendo escrito por mim e por minha irmã gêmea, chama-se “Na Montanha das Corujas – um livro sobre a Medicina da Terra”. Ele será a continuação natural do livro “Os Anjos não usam Relógio”. Sinto vontade, entretanto, de liberar alguns trechos previamente, pois se referem a determinadas pesquisas mui interessantes sobre sinestesia, para que vocês já entrem em contato com este universo de informações. Por esta razão, os trechos ainda estão para ser revisados e aprimorados. Segue o rascunho de idéias. BOA REFLEXÃO! Atma.
Trecho 1 – GREEN BALL DAY – TEMA: SINESTESIA
Caro Diário, o cérebro humano é um vasto universo cintilante cujas... / vindouras contínuas descobertas carregarão a humanidade para um novo e límpido sentido da existência. Entretanto, as mudanças serão sempre graduais e, quando percebemos, deixamos para trás a antiga forma de enxergar o mundo. O homem então sente dentro de si o ventre da criação: a força e o poder da vida.
Cérebro, máquina sagrada que decifra os códigos do sistema do mundo! E torna possível a interconexão entre espírito, matéria e pensamento.
"O que você está fazendo, Atma?"
"Estou lendo uma revista sobre o funcionamento do cérebro, sobre o que os cientistas chamam de “fenômeno da festa”. Já ouviu falar, fulano?"
"Fenômeno da festa? Não. O que é?"
"É que, numa festa, nós ignoramos todos os ruídos irrelevantes enquanto conversamos com um amigo, mas mudamos rapidamente de foco assim que alguém menciona algo de nosso interesse, como, por exemplo, o nosso nome. Ou seja, estamos sempre ouvindo o som, muito embora nem sempre o estejamos escutando, a menos que ele se torne significativo para nós. É uma questão de atenção, portanto. É desta forma, por exemplo, que vivenciamos o contato, em nosso íntimo, com os registros das memórias do Universo, ou os registros acásicos da Luz Astral: apenas o que é necessário para a nossa missão atual fica acessível para a nossa mente objetiva. Quanto às demais informações, é preciso que nos interiorizemos para resgatá-las dentro de nós. Basta querer entrar em contato... Prestar atenção..."
"Faz sentido..."
"Mas intrigante mesmo é a mente dos sinestésicos, à qual os cientistas se referem como 'uma espécie de contaminação dos sentidos que não chega a ser uma doença'. Você sabe o que é sinestesia?"
"Movimentar objetos com o poder da mente?"
"Não. Esta é a cinestesia com “c”. Estou falando da sinestesia com “s”, que é quando alguém sente o gosto do som, ou sabe a cor de uma música, ou sente o cheiro de uma forma, ou vê a cor de uma letra."
"Que maluquice é essa?"
"Maluquice, não! Antes era maluquice. Agora é ciência! Há diferentes tipos de sinestésicos, e estes geralmente são canhotos, assim como eu. Olha o que a revista diz. Vou ler um pedaço para você: Até bem recentemente, as pessoas com sinestesia eram ignoradas, consideradas delirantes e, às vezes, confundidas com doenças mentais. Porque elas são capazes de falar, com a maior naturalidade, sobre a textura de um aroma, o sabor de diferentes letras ou a melodia do gosto de um pêssego. O que isso nos informa é que os sentidos não são entidades independentes e que a percepção é seu produto final. O sentido é um sistema formado por células especializadas que reagem a um sinal específico e se reportam a uma parte do cérebro. Já a percepção é o valor agregado que o cérebro organizado confere aos dados sensoriais brutos – vai muito além das sensações e envolve memória, experiência e processamentos cognitivos sofisticados.
Fulano fez uma careta, espantado com as informações. Aquilo era um mundo novo para ele. Soava mesmo era como maluquice, isso, sim! Mas, mesmo assim, ficou curioso de ouvir mais sobre o tema.
"Você assistiu a um programa de televisão que mostrou um museu onde os visitantes colocam uma máquina na cabeça e, com o poder das ondas cerebrais, movimentavam uma bola em repouso sobre uma superfície plana? Sabe o que é isso? É a ciência comprovando a telecinese, o poder de movimentar objetos com o pensamento."
"Você é esotérica ou cientista afinal de contas?" implicou ele, dando um tapa na capa da revista Scientific American que Atma trazia nas mãos.
"Os dois, ué! Neste aspecto, sou diferente de alguns colegas estudantes de esoterismo que têm uma certa implicância com a “ciência profana”, por esta ser tão limitada em seus métodos de investigação e, consequentemente, em seus resultados. Mas eu não penso assim, não. Amo a ciência cartesiana, porque ela vem referendando tudo aquilo que o mundo da magia vivencia há milênios na face da Terra."
“O que importa não são os poderes psíquicos, mas sim o que você aprende com eles e qual a utilização que dá para eles. Você está indo bem, Atma. Estamos sempre com você...” alguém soprou nos ouvidos de Atma, e ela sentiu todo o seu campo de energia revigorar-se tremendamente.
Trecho 2 – JUNG – Sincronicidade – Inconsciente Coletivo.
Um pouco do que aprendi sobre Jung:
Jung foi o mais famoso discípulo de Freud (o pai da psicanálise). Valorizou o fenômeno religioso e místico como uma das manifestações transparentes das profundezas do inconsciente coletivo. Este foi o grande diferencial dele.
Jung reconhecia a atitude racionalística da nossa consciência e advertia que tal mecanismo não é adequado para uma observação científica mais abrangente.
Olha o que ele escreveu no prefácio: (...) “Não devemos sugerir à Natureza o que deve fazer, se quisermos observar seu comportamento espontâneo.” (...)
Jung amava a filosofia oriental. Considerava-a “de um valor inestimável para a pesquisa científica”, pois que esta há muitos séculos vem se ocupando com os processos psíquicos interiores. Também acho!
Já no prefácio deu para notar que realmente o pensamento jungiano tinha tudo a ver comigo. Prossegui com redobrado interesse.
Olha outra frase reveladora de Jung: (...) “o inconsciente parece conter indícios de algo que ultrapassa a esfera meramente pessoal.” (...)
O estudioso se esforçava para descobrir a cura para as neuroses, que chamava de “desunião interna”. Verificou que não era possível atingir uma cura real apenas “transferindo” sentimentos ou situações. Não vou entrar em detalhes, pois estes estão no livro de Jung.
O doutor estudava a psiqué dos pacientes pela análise detalhada dos sonhos, o que considerava excelente por conterem imagens e associações de pensamentos livres da intencionalidade racional - por isso os sonhos são excelentes indicadores do padrão mental do paciente.
Você ficaria chateado se eu te contasse os infindos causos dos pacientes. Não vou cansá-lo com isso, amigo. Mas me permita compartilhar com você apenas um caso analisado por ele em seu consultório.
O primeiro trata de um caso de “transferência”, em que a paciente se ludibriou acreditando que havia encontrado a cura, devido a um sentimento de bem-estar. O que aconteceu foi o seguinte: o pai desta mulher morreu. Ela o adorava. Ela foi parar no consultório de Jung para aprender a lidar com a dor da perda. Foi então que ela se apaixonou por Jung. E, sentindo-se bem amando outrem (transferiu o amor de um para outro), julgou-se curada. O mais interessante é a forma com que Jung descreveu este processo. Veja:
(...) Acaso a nostalgia de um deus poderia ser uma paixão, manando de uma natureza obscura e instintiva, uma paixão intocada por quaisquer influências externas, talvez mais profunda e forte do que o amor por um ser humano? Quem sabe seria este o sentido mais intenso e profundo desse amor inadequado, que se chama transferência?” (...)
A paciente que tinha sonhos que ultrapassavam a concepção individual que ela, sendo católica, fazia de Deus. Nos sonhos dela, a figura de Deus se manifestava de uma forma mais que pagã: arquetípica, primitiva. Correspondia a uma realidade arcaica. Isso porque a paciente associava o objeto do seu “afeto especial” a um homem enorme, gigante. Havia também o elemento ar em forma de vento. Arquetipicamente, podemos traduzir assim: Deus simboliza o vento: mais forte e poderoso que o homem.
A palavra espírito vem de “vento”. O sopro de Deus. Deus é Espírito, o próprio sopro da vida.
Jung questionou-se como uma mulher civilizada de formação cristã podia sonhar com uma imagem divina autenticamente primitiva. Investigando, certificou-se de que ela não possuía conhecimento prévio desta informação. Considerou, então, que tais arquétipos não eram ideias exclusivas dela, mas sim “caminhos virtuais herdados” ou “categorias herdadas”.
(...) “O inconsciente possui conteúdos coletivos em estado relativamente ativo.” (...)
Tendo lido esta história interessante, prossegui a minha leitura, absorta, concentrada, como o dia exigia. Outro dia te conto o mais que aprendi. Acho que você vai gostar.
Ler o caso daquela paciente de Jung fez-me recordar de um sonho que me impressionou demais. Foi há muitos anos. Nossa, eu ainda namorava o Fabiano (antes do Cigano). No sonho, O Fabiano estava caminhando por uma estrada longa. Ele caminhava e o vento soprava-lhe os cabelos longos e muito lisos. Ele era um gigante. Ele usava uma camisa de algodão com um bolso do lado esquerdo (perto do coração) e eu estava em tamanho miniatura, dentro do bolso dele! Eu me sentia tão segura. Os meus minúsculos braços abraçavam-no. Eu me sentia realmente feliz. Meus cabelos também esvoaçavam com o vento, que era uma carícia em mim. Talvez eu tenha transferido o meu amor por Deus para o Fabiano. E depois o transferi para o Cigano. Depois para o Xamã.
Afeto e atenção. Segurança e felicidade. É isso que desejo. Qual persona me poderá oferecer tais coisas?
Li muitas coisas sobre o inconsciente coletivo e achei bem coerente com o que sempre experienciei, por isso a minha identificação com a obra de Jung foi instantânea.
[Sincronicidades.] Jung também critica o conceito de tempo. Considera a sincronicidade uma “relatividade do tempo e do espaço condicionada psiquicamente” [pág. 14], “como se o espaço e o tempo dependessem de condições psíquicas”. Ou seja, compreendeu que o espaço e o tempo se comportam elasticamente, sob o comando da vontade. “Em si, o espaço e o tempo consistem em nada.” [pág. 14] Ele quer dizer que são uma ilusão criada pela nossa mente material. Diário, a sensação de espaço e de tempo serve para que a mente se coordene com os demais corpos em movimento. Esta sensação psíquica é criada “pelas necessidades intelectuais do observador”.
JUNG
Atma foi à Biblioteca Nacional para estudar aqueles dois livros de Jung que haviam sido recomendados pelo Ser. “Estes dois livros de Jung, por favor?” entregou as fichas de pedido para o rapaz do balcão da biblioteca. Ele entregou a ficha com o número da mesa. “É só aguardar.”
“Obrigada.”
A bibliotecária interrompeu as memórias de Atma ao depositar os livros de Jung sobre a mesa.
Encontrou vários trechos muito elucidativos no livro “O eu e o inconsciente”. Leu a tarde toda, até que se cansou. “Uau...! Agora entendo por que o Ser Cósmico me indicou a leitura deste livro...” Lançou um olhar furtivo para o relógio que fica em cima da porta de entrada do salão de leitura. Como a hora tinha avançado, já eram quase seis horas. Por hoje já era mais que suficiente.
Já em casa, tomou um banho, tomou um copo de suco de manga e se sentou para escrever. Queria passar a limpo as pesquisas do dia. Tinha garranchado tudo em uma folha solta de papel.
Abriu seu grande e gordo caderno-diário, passou as folhas até alcançar a primeira em branco e, no topo, escreveu: “Trechos interessantes do livro ‘O eu e o inconsciente’, de Carl G. Jung”. Deu mais um gole no suco de manga. Colocou o copo de volta na mesa. Escreveu: “pág. 20: (...) Os conteúdos psíquicos transpessoais não são inerentes ou mortos e, portanto, podem ser manipulados à vontade. São entidades vivas que exercem sua força de atração sobre a consciência. A identificação com o cargo ou título pode ser muito tentadora, mas é o motivo pelo qual tantas pessoas não são mais do que a dignidade a elas concedida pela sociedade. Procuraríamos em vão uma personalidade atrás da casca. Sob o envoltório pomposo encontraríamos um homenzinho deplorável. O cargo ou qualquer tipo de casca exterior exerce um grande fascínio, porque representa uma fácil compensação das deficiências pessoais.”(...)
“Pa-rá-gra-fo de al-to im-pac-to!” disse Atma compassadamente, brincando consigo mesma. E continuou escrevendo:
“pág. 21: (...) Aproximar-nos-emos mais da verdade se pensarmos que nossa psique consciente e pessoal repousa sobre a ampla base de uma disposição psíquica herdada e universal, cuja natureza é inconsciente; a relação da psique pessoal com a psique coletiva corresponde, mais ou menos, à relação do indivíduo com a sociedade.”(...)
“Jung não era bobo, não, hein?” falou Atma, desta vez olhando para a foto de Swami em cima da televisão. Era daquele modo mesmo que parecia funcionar a psique humana. Ao menos era o que parecia estar constatando com seus jogos de baralho cigano, que proporcionavam um mergulho no inconsciente coletivo.
Registrou mais um pensamento de Jung em seu caderno: “pág. 22: (...) A psique humana é dotada de certas funções ou tendências que, devido à sua natureza coletiva, se opõem às necessidades individuais.”(...)
“Eu que o diga...” suspirou Atma. Sentiu vontade de ir ao banheiro. Foi e voltou logo, para continuar escrevendo: “ainda na pág. 22: (...) também há uma psique coletiva que pertence à raça, à tribo e família, além de uma psique coletiva “universal”. (...) “a psique coletiva corresponde as “parties inférieures” das funções psíquicas, isto é, a parte solidamente fundada, herdada e que, por assim dizer, funciona automaticamente, sempre presente ao nível impessoal ou suprapessoal da psique individual...”
“Caramba... Jung está descrevendo o que se chama de ‘egrégora’ dentro da linguagem da magia...” pensou Atma. Prosseguiu:
“Quanto ao consciente e inconsciente pessoais, podemos dizer que constituem as “parties supérieures” das funções psíquicas, isto é, a parte adquirida e desenvolvida ontogeneticamente. Por conseguinte, o indivíduo que incorporar, a priori e inconscientemente a psique coletiva preexistente a seu próprio patromônio ontogenético, como se a primeira fosse parte desse último, estenderá de modo ilegítimo os limites de sua personalidade, com as consequências correspondentes.(...)
“O que você acha disso, Swami?” lançou outro olhar para Sathya. Sem resposta, continuou passando a limpo:
“A persona é um segmento da psique coletiva. Pág. 133 e 144: (...) “A personalidade consciente parece-nos um segmento mais ou menos arbitrário da psique coletiva. Ela resulta do desconhecimento a priori de fatores humanos fundamentais, da repressão mais ou menos involuntária de uma série de elementos psíquicos e característicos que poderiam ser conscientes, e cuja finalidade é estabelecer aquele segmento da psique coletiva a que demos o nome de persona. A palavra persona é realmente uma expressão muito apropriada, porquanto designava originalmente a máscara usada pelo ator, assinalando o papel que este ia desempenhar na peça (...) “Como o seu nome revela, ela (a psique individual) é uma simples máscara da psique coletiva, máscara que aparenta uma individualidade, procurando convencer aos outros e a si mesma que é individual, quando na verdade não passa de um papel ou desempenho através do qual fala a psique coletiva.”(...)
“Tex-to a-vas-sa-la-dor!” brincou Atma, falando sozinha. Puxou mais ar e escreveu as últimas linhas do dia: “(...) “Deste modo, surpreendemos a “pequena divindade humana” em sua origem, o Deus geral personificado pela psique coletiva.” Pronto. Tudo passado a limpo.
“Aprovado, Swami?” perguntou, como se Ele realmente estivesse ali. Satisfeita, imaginou que Ele tivesse respondido que sim. Então se levantou, colocou os tênis nos pés e foi sair para caminhar um pouco. Colocar o sangue para circular. Não era saudável ficar só sentada o dia todo.
O dia seguinte de estudos traria revelações muito interessantes para ela. Como se já soubesse, adormeceu com um sorriso nos lábios, esperando que o dia raiasse logo.
Obs para mim mesma: Explicar que a sensação de aquário dá depois passagem ao holograma de luz e buracos de minhoca.
Com amor,
Atma :))