AS SANDÁLIAS DA HUMILDADE... REIKI MASTER.

Diário da Luz!

Hoje foi o dia do meu mestrado em Reiki Usui! Um dos dias mais felizes da minha vida...

Tomei um banho gelado às oito horas da manhã e, às nove, já estava com tudo pronto. Comi só uma banana, estava com pouca fome. Desci as escadas do prédio, as mesmas escadas que as minhas pernas miúdas desciam quando eu era pequena e ia tocar lá na casa da Eva para procurar a companhia do nosso melhor amigo Marcelo. (Angélica e eu sempre fomos grudadas com o filho da Eva. Éramos como unha e carne!) Vi que ainda havia uma movimentação na casa da Eva esta manhã, e então decidi ir andando até o espaço CEHO, que fica daqui a duas ruas. Seria bom caminhar um pouco, bem devagar, e ir sentindo a energia das árvores amigas... árvores que Angélica e eu trouxemos para o nosso convívio.

"Nossa, como vocês estão grandes!" vibrei para as árvores, olhando-as da portaria do meu prédio. "Vocês são nossas amigas," vibraram as árvores em resposta. "Vocês são amigas das árvores..." Eu me deixava embalar pela harmoniosa companhia da consciência do Reino Vegetal quando ouvi uma voz que me chamava. Olhei e vi que era o marido da Eva, o Gaúcho. Estava indo, de carro, para o CEHO. Ia levar umas vasilhas, umas cumbucas, umas frutas, doces, e pães e depois iria retornar para buscar a Eva. Ofereceu-me uma carona e, por mais que eu quisesse ir a pé, fui com ele para ajudar a descarregar tudo e já ir deixando o espaço arrumado.

Entrei no carro e seguimos para o espaço holístico que a Eva construiu. Na verdade, as paredes da casa de três andares foi o próprio Gaúcho que construiu! Ele estacionou na porta do CEHO e me deu a chave, "Vá abrindo lá a porta, que eu vou carregar as sacolas para dentro." Entregou-me a chave e senti-me imensamente feliz por estar abrindo a porta do espaço naquele dia tão especial. Parecia um bom sinal para o meu espírito. Podia ser bobeira, mas eu me sentia assim. Como se os anjos do Reiki tivessem colocado aquelas chaves na minha mão, para me lembrar da responsabilidade de receber as pessoas... de ajudar as pessoas... Ah, quando o nosso espírito está sensível... tudo fica assim... nós vemos símbolos para onde quer que olhamos... Nós ouvimos o sopro da vida a cada segundo que respiramos...

Uma pequenina borboleta amarela seguiu-me pelo corredor, até a entrada da porta principal. Olhei-a e vibrei, "Seja você também bem-vinda!"

Abri a porta daquela casa humilde e sem luxos. Apenas uma construção cheia de tijolos e ainda com muita coisa de decoração que poderia ser feita ali. Mas era, para mim, o mais lindo paraíso! Pois era ali que eu tinha me iniciado em Reiki. Era ali que eu tinha recebido a transmissão dos florais... Era ali que eu tinha recebido tanta cura, tanto resgate. Era ali um dos lugares do universo que eu mais amava em minha vida.

Eu quis ir vestida com uma blusa azul. Foi até uma blusa azul que uma amiga minha me deu. Uma amiga que também é mestra em Reiki. Coloquei um short bege, porque faz muito calor esses dias. Calcei os meus chinelos verdes. Prendi o cabelo em um rabo-de-cavalo. Estava bem confortável, como o dia exigia. Cheirei o pé de boldo. Ai, que delícia! Cumprimentei todas as plantas. Depois de abrir a porta, voltei lá na calçada e peguei, no porta-malas do Monza velho que só, as sacolas cheias de comida. Levei para dentro da casa, e colocamos tudo na mesa da cozinha. Fiquei de ir arrumando tudo, enquanto ele ia voltar em casa para pegar a Eva.

Peguei uma toalha de mesa e forrei a mesa da cozinha. Arrumei as passas, damascos, ameixas, paezinhos e sucos. Será que teria problema se eu comesse algumas ameixazinhas? Não resisti. Comi algumas. Umas cinco. Um damascozinho também. E um punhado de passas. Pronto. Agora eu tinha que esperar o resto do pessoal chegar para tomar café-da-manhã. Eu não sabia quantas pessoas viriam. A Esmeralda, com certeza. Mas e a Priscila? Ela não tinha dado certeza.

Fiquei de olho na garrafa do suco de uva. Vou pedir para levar o frasco para casa, para eu poder fazer os meus fitoterápicos. O vidro não é ambar, mas é bem grande e com um formato bom.

Fui beliscar as passas, sentada em uma das cadeiras da primeira sala que se entra quando adentramos o primeiro andar da casa: uma sala onde cabem umas vinte pessoas. Tem uma mesa com a estátua da Kuan In, do Mestre Jesus, uma fonte de pedras e cristais. Vários cristais e velas aromáticas. Tem outras duas mesinhas no outro canto da sala, com fotos de Yogananda, Gandhi... e mais cristais e velas coloridas. As mesas para sentar são como as cadeiras de escolas, com um puxado lateral que vem para a frente do corpo onde se apóia o caderno do aluno. São da cor bege claro.

Fiquei olhando o ambiente. A fonte ainda estava desativada. Daqui a pouco a Eva ia chegar e ligá-la na energia, e as gotas de água iam começar a se movimentar, fazendo girar as pequenas bolas de cristais coloridas. As outras pessoas iam chegar também, e o movimento de todo mundo ia fazer a casa ganhar vida. O Gaúcho voltaria também, e viria a passar o dia inteiro arrumando o jardim, cuidando das plantas, vendo o que estava faltando, se precisávamos de ajuda.

Eu mastigava as passas vagarosamente e me enchia de vida. Ah, como era bom o silêncio! A quietude! Que maravilha... Deixei-me ser absorvida pelo prazer da quietude... Porém, passados alguns minutos, voltei de volta ao ambiente onde estava. Abri os olhos. Logo logo a Esmeralda ia chegar. (Ela veio dormir aqui em casa hoje.)

Não se passou muito tempo até que, de fato, as poucas pessoas que tinham que vir hoje chegassem. Éramos cinco alunos somente: Esmeralda, Jorge, Célia, Sandra e eu. A Eva logo voltou também com o marido, e a primeira coisa que ela fez foi emantar toda a casa com símbolos de Reiki. Ela estava com uma energia especial, diferente. Ela estava consciente do poder, eu diria.

Nos reunimos todos na saleta da entrada e fizemos uma oração bonita, agradecendo aos Mestres da Luz por este dia. Para minha decepção, não íamos lanchar ainda. A ceia era para mais tarde, às cinco horas, quando faríamos uma confraternização. E teríamos também um almoço por volta de meio-dia. Quem mandou comer só uma banana no café-da-manhã? Agora eu ia ter que aguentar até a hora do almoço só com aquelas frutinhas no meu estômago.

Às dez horas a Eva mandou a gente subir para a sala de aula, que fica no andar de cima. Passamos por uma pequena sala que é usada como secretaria, e subimos as escadas até o segundo andar. Lá em cima tem duas salas e um banheiro. (No terceiro andar acho que é um espaço aberto para Yoga.) Nos acomodamos na sala maior. A sala menor era geralmente usada para irmos, individualmente, receber a transmissão dos símbolos do Reiki. Nos acomodamos, e a Sandra ia ajudando a Eva em tudo: acendeu um incenso, colocou mantras para tocar em um volume agradável.

Até que finalmente sentamos para o início da transmissão. Estávamos empolgados, excitados, era visível! Sorríamos uns para os outros, com os olhos. Caramba! Era um dia muito importante em nossas vidas! Um dia de muito amor. Um dia, com certeza, inesquecível.

Fizemos nova prece sentida e a Eva falou que este foi o primeiro grupo para o qual ela iria transmitir o nível de mestre-instrutor. Olha, eu não sabia...

A transmissão do último nível do Reiki começou com a Eva falando sobre o amor, a paz, a humildade... Em seguida, pediu que fechássemos os olhos e sentíssemos a divina presença do Eu Sou dentro do nosso coração.

""Imagine uma câmara dourada dentro do seu coração," instruiu ela. "Dentro desta câmara, existe um trono de amor. Sente neste trono. Ocupe-o, pois o trono do amor lhe pertence."

Obedecíamos, e doce era a sensação de sermos conduzidas pela vaporosa energia que nos envolvia.

"Agora imagine que um manto recai sobre os seus ombros," continuou Eva.

Visualizei um lindo manto na cor magenta caindo sobre mim... Eu... que sentava no trono do amor em meu coração...

"Este manto é o manto da proteção," disse a nossa instrutora. "Você está protegido pela energia do universo."

Senti-me tranquila e amparada. Protegida.

"Agora imagine uma coroa na sua cabeça. É a coroa da sabedoria," tornou Eva. "Visualize também um cedro em sua mão. É o cedro do seu comando, regido pela sua vontade."

Eu podia me ver pequenininha dentro do meu coração, no pequeno tronozinho dourado que construí. O meu manto era magenta, muito lindo. A coroa era vaporosa e dourada, completamente reluzente. O cedro, quis imaginá-lo de ferro, para ser bem forte. Mas do ferro que se torna flexível sob o calor do coração.

"Agora visualize sandálias nos seus pés," disse a Eva, com uma brandura singular em sua voz. "São as sandálias da humildade!" disse ela, e pude sentir o meu corpo arrepiar-se por inteiro, com a presença da energia crística evocada.

"Anjos do Reiki!" clamei, e senti-me em conexão com seres etéricos, luminosos, vaporosos, belos! Belos em suas intenções de altruísmo e de amor!

"A partir de agora," continuou Eva a conduzir a visualização, "nós temos a presença do Eu Sou dentro do nosso coração." Disse estas palavras e silenciou. Não pude evitar de abrir os olhos para ver o semblante dos meus companheiros. Mas que idéia a minha! O que os meus olhos físicos poderiam enxergar que se comparasse ao fluxo maravilhoso de energia que eu sentia vibrar em meu coração? Tornei a fechar os olhos de novo, e a acariciar com atenção aquela pequenina menina que estava em um troninho dourado dentro de mim. Ela sorria, festeira, contente, bonita! Eu me lembrei das palavras do professor Victor na aula de ontem, na Neijing, quando ele nos falava sobre o Mestre do Coração, que é o Imperador da nossa vontade. Lembro quando ele falou sobre a energia psico-emocional que existe em cada parte de nós. Lembro-me de todas as palestras dos monges ascencionados que ouvi, e de todas as vezes que eles nos disseram que existia uma força incomensurável dentro do nosso coração, e que era essa força que nos guiava, que nos fazia caminhar pela vida: o nosso Espírito! É o espírito que conduz o corpo físico... Para viver as experiências que queremos viver...

Eu estava simplesmente sentindo o centro da minha consciência no meu coração. Deixei-me ficar assim por inteiro, intensa, com a minha total atenção. E fui interrompida pela voz da Eva, que nos indagava o que cada um de nós sentiu durante a visualização. A Eva tem esse poder de falar vagarosamente e, mesmo assim, ser capaz de transmitir todo o conteúdo previsto para o dia. E foi bem vagarosamente que ela nos fez esta pergunta também. Sem pressa de correr com o dia.

Foi a Célia quem começou falando. Ela disse que sentiu uma vontade de ser uma pessoa melhor, de estar melhor, que as pessoas estivessem bem também. A Célia falava e levava a mão ao peito. Eva sorriu e falou, "Todos somos um só. É função nossa curar até que todos estejam curados. Porque como poderemos ser completamente felizes enquanto uma parte de nós estiver infeliz?"O Jorge disse que os batimentos cardíacos dele bateram com muita força. Eu apenas disse que senti vontade de começar a escrever sobre tudo o que eu vivia e sentia e que queria continuar escrevendo. Então a Eva deixou eu não falar muito e passou o olhar para a Esmeralda. A Esmeralda sentiu paz, tranquilidade, luz. Agradeceu a Jesus pela oportunidade de poder transmitir agora o Reiki aos outros. A Sandra viu as sandálias de Jesus caminhando... e sentiu um sopro crístico que lhe dizia: "Caminhar sempre para o bem". Ela viu também uma flor de lótus no coração de cada um de nós e viu que vários Arcanjos desceram trazendo-nos muita luz.

"Oh, os Anjos do Reiki..." vibrei em mim, plena de gratidão pela conexão com os Mestres da Luz!

Eva sorriu, e nos disse, "Lembremos que um dia alguém chamou Jesus de mestre e ele falou, 'Por que me chamais de mestre? Apenas o meu pai que está nas alturas é o mestre verdadeiro!". Todos assentiram com a cabeça e desejamos seguir os ensinamentos daquele que foi um perfeito filho de Deus.

"Nós ainda temos um longo caminho espiritual para percorrer antes do nosso despertar. Ainda temos muito o que trabalhar e estudar. Não somos só nós que temos que trabalhar bastante. Todos os anhos e elohins trabalham muito. Então vamos ser humildes. Não tenham pressar de começar. Não saiam iniciando pessoas apenas por iniciar. Estamos recebendo uma bênção enorme e também uma responsabilidade muito grande."

Atrás da cadeira onde a Eva estava sentada, eu podia ver a foto do mestre Jofiel, com sua bela túnica amarela e com asas de todas as cores, tal como um arco-íris. O arco-íris angelical parecia refletir luzes por sobre a roupa toda branca que a Eva vestia. Observei o pequeno colar cheio de pequenas pedras brancas que lhe enfeitava o pescoço e, mais uma vez, pensei sobre o fio único de energia que une, em essência, todas as manifestações de vida...

Pensei no meu querido amigo de infância Marcelo, o especialista em signos. Ele é filho da Eva. Sempre fomos vizinhos, desde que tenho seis ou sete anos de idade. Lembro-me que, desde pequena, eu a via saindo toda de branco - até mesmo as sandálias eram brancas! Ela ia para algum lugar sempre com um sorriso, mesmo que seu espírito estivesse triste com alguma preocupação mundana. Era no Centro Espírita que ela encontrava a razão maior de seu viver. Seu propósito no mundo, além de ser amorosa mãe e devotada esposa. Uma mulher que viveu para a família e para o trabalho e estudo.

Pensei por um momento por onde o meu amigo Marcelo estaria, e senti o meu coração bem tranquilo, porque nós temos um laço de irmandade tão profunda que, mesmo que estejamos longe, estamos sempre juntos. Por um segundo eu me vi, uma rebelde adolescente de quinze anos, tocando a campainha da casa da Eva. "O Marcelo está aí?" eu perguntava. "Sim, pode entrar que ele está," eram sempre a Eva ou o Gaúcho que me diziam. Eu entrava. A cabeça era raspada da metade para baixo, e a semi-careca podia ser vista porque eu estava sempre com um rabo-de-cavalo preso bem no topo da cabeça. As roupas eram atléticas. Eu acabava de voltar das aulas de artes marciais. Batia na porta do quarto de meu irmão-vizinho. Por que não tínhamos nascido irmãos de sangue logo de uma vez? Era irmãos que nós éramos, isso, sim!

Então o Marcelo abria a porta para mim, e eu podia ver o seu belo rosto luminoso se abrir em um sorriso. Por que era sempre uma alegria tão grande toda vez que nós nos víamos? Será que não cansávamos de nos ver todos os dias? Será que não cansávamos das conversas, das risadas, dos dramas dos conflitos de nossas cabeças de adolescente? Não. Nunca nos cansávamos um do outro. Nunca enjoávamos. Estávamos sempre juntos. Marcelo me deixava entrar e eu ficava olhando aquele buchechudo (na época, ele era gordinho, não tinha o físico musculoso de hoje em dia) com cabelos loiros e olhos verdes. Estava sempre comendo um pacote de biscoitos ou saboreando um sorvete. Ou quem sabe um sanduíche duplo.

Sei que passávamos horas e horas do dia de papo para o vento, ouvindo músicas. Naquela época a internet não era como hoje em dia, então não assistíamos vídeos no youtube nem nada assim. Apenas contávamos as nossas histórias. E as histórias do Marcelo eram sempre interessantes para mim. Não só porque ele me falava das paqueras (Se até hoje gostamos de conversar sobre relacionamentos e paqueras, imagina se naquela época tinha assunto melhor ainda?)... Marcelo sempre me contava das conexões que tinha com o plano astral, com os anjos e querubins... contava de cavalos alados em que tinha voado, de seres de outros planetas com quem tinha se conectado! Falava da energia das estrelas que regiam a vida das pessoas, ele sentia! Era óbvio de se ver! Claro, ele via! Ele sabia! Ele sonhava! Ele simplesmente ia! Ia para os mundos astrais e, com os seres, voava, aprendia, sorria.

Passávamos horas conversando sobre as coisas da vida e sobre as coisas do céu. A minha irmã Angélica também estava sempre lá. De vez em quando, a Eva vinha bater na porta do quarto, avisando que tinha sorvete no freezer. Opa! Levantava todo mundo, ligávamos também para o Rodrigo, e ele também vinha. Estávamos sempre juntos, nas festas de aniversários, nas noites de Natal. Mais tarde, com o passar dos anos, na correria da vida. Todos juntos choramos quando se foram vidas... Choramos juntos quando a sobrinha do Rodrigo partiu. Era dor que partir a alma, porque lá se ia a pequenina de dois anos de idade. Entender a vida?! Que complexo que seria... Quem? Quem poderia compreender a vida? Às vezes tudo parecia tão sem sentido... Mesmo sem brilho, sem alegria. Mas... para a alegria voltar... era só estarmos juntos de novo. Nós, os amigos! Mais que amigos, irmãos! Éramos Angélica, Rodrigo, Marcelo, eu... e outros irmãos-amigos que, com o tempo, partiram, mudaram-se... foram seguir suas vidas. Porém na infância de cada um de nós, na adolescência, ficam as memórias do companheirismo, da cumplicidade, das lições de vida.

E de tudo isso a Eva foi uma testemunha próxima. Fez parte sempre da minha vida. E, quantas vezes, precisou ter paciência com a gente. Nossa, como eu era rebelde na minha adolescência! Acho que ainda sou, Diário... Agora... aos trinta e três anos de idade... Deve ser por isso que eu ainda escrevo um diário... Porque ainda sinto o conflito da dualidade na minha vida... Quando chegará o dia em que as palavras sábias dos mestres finalmente encontrarão o eco perfeito no meu espírito? Não sei... Até lá, vivo a vida. Respeitando as limitações do meu espírito. Esforçando-me para ser mais altruísta. É por isso que eu escrevo também: no intuito de ajudar. Ajudar os espíritos a se lembrarem sempre da nossa missão maior na vida: iluminar a nossa mente e seguir rumo a uma existência mais plena de amor.

Lembremos sempre o quanto os amores desse mundo são passageiros. Não chore pela transitoriedade! Não chore quando alguém morrer ou - o que às vezes é pior - simplesmente for embora da sua vida! Quando o sofrimento vier, procure sempre algo de bom para fazer na sua vida, rogando aos Anjos dos Céus que ajudem você a deixar de pensar só no seu umbigo e ter o desejo de levar alegria também a outras vidas.

"Quando eu fiz o mestrado," falou a Eva, trazendo-me de volta ao presente. "Naquela época, nós não podíamos levar o desenho dos símbolos para casa. A mestra que me iniciou vinha do Chile. A iniciação era muito cara porque ela tinha gastos com a passagem e a hospedagem. Era raro ter pessoas dando a transmissão do Reiki." A Eva também nos explicou que cada mestre em Reiki deverá transmitir os conhecimentos para as pessoas dentro de sua linha de conhecimento. Por isso, as apostilas podem variar de conteúdo, embora devam conter toda a técnica do Reiki em si. Alguns mestres possuem pesquisas no campo budista e trazem a sua visão para a transmissão do Reiki para as pessoas. Outros, são acupuntirstas, cromoterapeutas. Cada um na sua linha vai passar o melhor de conhecimento que tiver para transmitir.

"Agora cada um de vocês irá repassar o conhecimento do Reiki. Vocês poderão utilizar esta apostila que lhes entrego hoje, pois são compilações de informações. Então, não se sintam mal em copiar aquilo que eu também copiei. Utilizem as informações que precisarem para montar as apostilas de vocês," instruiu a Eva, carinhosamente.

Após estas orientações iniciais, seguimos para as instruções da apostila. Abrimos na página cinco e começamos a ler as considerações necessárias. Página seis, sete, oito, nove... Quanto aprendizado. Quantas reflexões!

"A sua vida está ruim hoje?" perguntou a Eva, olhando para todos. "Lembre-se que você é um mestre em Reiki. Faça Reiki para curar o seu passado porque, assim, você irá transformar o seu presente. Faça Reiki para o seu tempo presente. Projete Reiki para o seu futuro também."

Anotei estas orientações, sublinhando-as de vermelho, e decidi realizar este ritual antes de dormir esta noite.

"Tem pessoas que gostam de estar em uma situação de sofrimento," disse a Célia. "Elas se culpam e acham que têm que sofrer, para pagar tudo o que fizeram."

"É verdade..." concordei, lembrando-me da aula de ontem na Neijing.

"Deus não castiga," esclareceu a Eva. "É você que se impõe este sofrimento. A pior coisa que tem é a culpa, porque a pessa a carrega por toda a existência."

"A culpa parece um ácido corroendo," disse a Célia, e fiz até uma careta de imaginar tal cena.

"Quando você recebe uma bênção," disse a Sandra, "esta é uma forma de você liberar o seu karma. A gente tem que acordar. Não vamos mais sofrer. As bênçãos vão superando os nossos sofrimentos."

"Seremos pessoas melhores quando estivermos trabalhando pelas bênçãos," disse a Célia. "Que Deus me coloque na hora certa, no dia certo, no local certo, para eu fazer o meu trabalho. Para que eu possa melhorar como ser humano."

"Que coisa boa de se pedir aos Céus..." pensei eu. "Muito bom mesmo..."

Houve uma pequena pausa na aula, porque a Célia e a Sandra foram lá embaixo beber água. Trouxeram água para nós também, carregando pequenos copos de plástico nas mãos.

Anotei em meu caderno, "Apesar de todo o sofrimento do mundo dual, também existe a alegria (por mais efêmera que seja). É importante não perder a vontade de fazer pequenas gentilezas ao longo do dia. Isso torna o viver mais doce.

A Sandra está bonita, toda de lilás. Ela veio de sandálias também, prateadas. Dá para perceber que ela colocou cada peça combinando. Estamos vestidas de modo simples, mas ao mesmo tempo, nos preparamos com o primor de quem vai a uma festa. Melhor dizendo, como quem vai a uma comemoração bastante importante. Não com a importância da pompa, mas com a importância da simplicidade que este grandioso dia significa para nós. Curar! E transmitir a arte da cura!

Todas acomodadas de novo, a Eva então conduziu uma outra visualização, agora com a energia do Fogo da Serpente. E eu de repente me vi no tempo futuro... eu estava transmitindo tudo o que eu aprendi... e eu aplicava Reiki em uma grande multidão... em espírito... Deixei-me visualizar a minha experiência futura, tranquila de que, com as minhas sandálias da humildade, eu caminharia até o cumprimento daquele dia.

Abrimos os olhos e a Eva quis saber o que cada um de nós havia sentido. Eu falei como me vi. A Esmeralda viu um povo árabe. A Sandra viu uma luz dourada e branca. A Eva viu uma multidão sendo tratada com o Reiki.

"Nós já possuímos estas iniciações há muito tempo em nossos espíritos," lembrou Eva. "Quando nós reencarnamos, trazemos em nossa aura os símbolos do Reiki, porque a iniciação é espiritual, não é no nível da personalidade. Desde a época da Atlântica, nós viemos recebendo novamente o Reiki em nossas experiências de vida. Nós estamos reativando os símbolos. Símbolos que já possuíamos."

Todos ouvíamos com redobrada atenção. E eu lembrei-me do dia em que sonhei que eu era uma sacerdotisa de cura no antigo Egito, há cinco mil anos...

"Disseram que um dia eu fui uma sacerdotisa," disse a Eva. "Eu não sonhei, mas me disseram. Uma amiga minha sentiu..." E eu tive certeza de que era verdade. Estávamos todas ali de novo reunidas. Que laços antigos nos uniam...

No teto da sala, um ventilador girava produzindo um vento bom. O sol estava a pino naquela hora: Yang Máximo! Teve vez a primeira iniciação individual na saleta ao lado. A Eva nos pediu silêncio absoluto e concentração. Ela pediu para ficarmos com olhos fechados. Então cerrei as minhas pálpebras e fiz umas dez respirações, movendo o Qi pelo meu corpo, tal como aprendi em minha querida Escola Neijing. Logo, lembrei-me do meu desgínio celeste: escrever sobre cura! Abri os meus olhos, e tornei a registrar tudo o que sentia.

Era a Sandra que estava lá na saleta. A Esmeralda estava totalmente imóvel, mas uma lágrima lhe descia pela face, deixando escapar à minha visão mundana toda a energia que dentro dela se movia... A Célia estava com um sorriso belíssimo animando o seu semblante sereno. O Jorge estava com um rosto sério, porém de igual quietude e tranquilidade.

Olhei com carinho para o ambiente da sala. O barulho do ventilador. As paredes de um amarelo suave, teto branco. Piso de cerâmica azulado, cadeiras de colégio. Perto da janela, um pequeno quadro desses de escrever com canetas piloto. Ao lado do quadro, uma pintura do Arcanjo Jofiel.

Um por um, entramos na saleta. O momento era sagrado. Depois da Sandra, foi a vez da Esmeralda. Quando ela se levantou, eu pude mesmo entender quando ela diz o quanto a forma espiritual dela é diferente da forma física! A Esmeralda se levantou com toda a sua força de espírito! Eu vi uma deusa caminhando para a saleta de iniciação. Uma deusa de servir. Uma deusa de amar. A Esmeralda é doce assim... Ela é uma criatura inimaginável mesmo. Ela foi, levando consigo a sua forma física atual.

As minhas mãos começaram a ficar muito quentes e, enquanto eu rabiscava as minhas impressões em meu caderno, eu podia sentir a vibração tomando conta de mim. Quanta energia! Um fino vapor quentíssimo saía do chakra das palmas das minhas mãos. O mantra Om Mane Padme Om estava tocando naquele momento. Que agradável... Chegou a vez do Jorge, da Célia. A minha vez.

Entrei na saleta cheia de vida! Em silêncio, entretanto, porque o momento pedia. Deixei a coluna bem ereta a as palmas das mãos espalmadas para cima, apoiadas nas coxas. Eu sentia que a Eva se movimentava em torno de mim, mas o meu espírito estava voltado apenas para perceber as energias sutis. Enquanto ela se movimentava, emantando o meu espirito com as vibrações do Reiki, eu sentia pequenos choques em todo o meu corpo. Choques de energia. Cheguei a sentir a minha mão esquerda tremendo. Em determinado momento, senti como se eu estivesse recebendo um balde de energia em cima da minha cabeça! Sabe quando você é criança e está brincando com os seus primos na piscina e de repente um deles vem com um balde cheio de água e vira em cima da sua cabeça, deixando você mais enxarcado de água do que você já estava? Foi exatamente assim! Só que não era água como a que se bebe, era banho de energia-alegria!

Senti a presença amorosa dos mestres Hilarion e Saint Germain me abençoando... E eles mostraram-me um símbolo que eu deverei utilizar no espaço que, no futuro, hei de inaugurar para realizar as transmissões dos conhecimentos adquiridos. Bendita missão que me enche de entusiasmo e de vigor!

Eu só chorei o tempo todo de tal modo que nem consegui pronunciar o meu nome no final, na hora que eu deveria. Misericordiosamente, a Eva pronunciou o meu nome, e eu fiquei aliviada porque ela sabia pronunciar direito o meu complicado sobrenome de origem italiana. Então, ela me auxiliou e pronunciou o meu nome para mim. Depois, pegou o meu rosto com as duas mãos, beijou-me a testa e disse-me, "Ô, menina! Eu te amo! Eu te amo como se fosse uma filha!" E aí eu chorei mais ainda. Saí da sala com os olhos vermelhos de tanto chorar e com o espirito feliz, feliz, feliz! Ô, meu Deus!

Todos nós ficamos na sala, chorando de felicidade. A Sandra pediu-me uma folha do meu diário porque ela precisava escrever algo também. Ela ficou escrevendo e chorando de emoção.

Em seguida, a Eva retornou a sala onde estávamos e fez uma prece, "A Luz é em seus corações. Vocês agora são mestres da Luz. Não se esqueçam: usem as sandálias da humildade! Este título que recebem hoje é uma função para ser utilizada em função do benefício da humanidade de vós mesmos. Lembrem-se que cada vez que recebemos uma nova etapa, a nossa responsabilidade torna-se ainda maior. Calcem-se com as sandálias do amor, da humildade e da paz. Eu vos abençôo."

Senti uma grande carga de energia amorosa vindo em minha direção e vi, em minha tela mental, o rosto do Senhor Buda.

Após o recebimento da benção da energia criativa, a Eva pediu que puxássemos algumas cadeiras para o centro da sala, pois íamos aprender, finalmente, como iniciar outras pessoas. Estávamos radiantes! É provável que se possa compreender a alegria de um espírito quando retoma o seu dharma nesta vida.

Outro dia eu escrevi sobre a maior beleza que o Reiki me ensina: a força da compaixão. Por isso a energia de Buda... No trabalho com o Reiki, nós sempre intercedemos à energia dos Céus por alguém... "Envie para ele a cura..." "Oh, senhor, te rogo, faça-o feliz em sua vida..." "Senhor, te imploro, envie a cura para ela..." O Reiki é energia de amor que se intercede para alguém. É energia de compaixão, de interceder a Deus por outrem. Uma das coisas mais bonitas da vida...

Passamos o resto da tarde assim. Ajudando uns aos outros a aprender a técnica da iniciação. A responsabilidade era grande. Porém o meu espírito estava bem firme, pois eu me lembro... Eu me lembro da minha origem... Lembro-me de tudo... Eu observava a presença do Senhor Buda em cada gesto nosso... No servir ao outro. No compartilhar das experiências. No respeito a todas as formas de vida.

No final do dia, éramos Mestres-Instrutores. Descemos as escadas e, parecia que tínhamos combinado, todo mundo foi de sandálias!

Fizemos a nossa ceia e ainda chegaram outras pessoas para comemorar conosco. Tudo gente de boa energia. Passamos o final do dia lá, até que anoiteceu e eu vim para casa, trazendo a minha garrafa de fitoterápico para continuar a minha caminhada de cura. A Esmeralda veio dormir aqui. Agora ela vai tomar um banho e estamos morrendo de sono. Eu preciso muito dormir. E a Ana Cristal está pedindo muito a minha atenção. Eu quero muito estar com a Ana Cristal, outra sacerdotisa que vem seguindo conosco desde as mais remotas eras. Mas, minha querida sobrinha, você só tem ainda quatro anos de idade nesta vida. Precisa compreender que a titia está morrendo de sono agora... porque foi imensa a energia... O meu espírito pede que eu me vá lá para longe agora... Eu preciso partir... Então deixe o meu corpo repousar aqui na cama e ficar desfalecido por umas oito, nove, dez horas. Eu preciso ir comemorar em outras esferas... Venha comigo, querida Ana Cristal. Deite-se! Durma! E deixe o seu espírito volitar comigo! E, quando mais um dia raiar aqui nesta terra, poderemos abrir os nossos olhinhos cheios de vida mais uma vez, respirar, brincar, sorrir, assistir pela milésima vez o filme do Avatar juntas e... continuar tendo esta maravilhosa troca de amor que existe entre nós, amada sobrinha...

Agora deixa a sua titia dormir... Agora que eu sou uma mestra de sandálias humildes... mas nem com as sandálias eu vou ao partir, minha querida. Porque o meu espírito é nu de posses. É pleno apenas da amorosa alegria da vida.

Com amor,

Atma Pés Descalços.