SURYA NAMASKAR - REINO VEGETAL

Terça-feira. 23:07h.

Estou feliz. Feliz porque tenho muito amor em minha vida. É uma escolha minha, decerto. Nós sempre escolhemos a realidade onde vivemos. E, graças a Deus, eu escolhi dar nova chance ao amor, ter esperanças e acreditar que sempre vale a pena...

Estava falando com o meu lindo filósofo ao telefone agora pouco. Perguntei a ele quando ele vai me ensinar a primeira série da Ashtanga Yoga. Estou fazendo o Surya Namaskar que ele me ensinou há quase duas semanas.

“Vou pegar uma apostila de Ashtanga com minha amiga e então começo a transmissão para você, meu amor,” prometeu-me. “E como você tem se sentido com a prática da Yoga?”

Eu suspirei, e meu rosto desabrochou em um sorriso leve e descontraído. Meu coração foi subitamente preenchido com uma sensação imensa de paz e de tranquilidade, pelo simples fato de lembrar-me das práticas matinais que tenho empreendido. Falei com a alma, “Meu querido... Eu sinto que a prática da Yoga é algo que eu estou resgatando nesta vida... Não é algo novo para mim... Eu não sei por que eu não tive interesse pela Yoga mais cedo, quando eu convivia com o professor Hermógenes e com o neto dele, o Thiago. Eu tive uma oportunidade de ouro à minha frente, quando eles mesmos me convidavam para praticar Yoga, e o meu interesse era menor do que zero!”

“Puxa vida, meu amor...”

“É, lindo... Mas... Eu procuro não me culpar por todas as tolices minhas do passado. Eu era uma jovem hiperativa, você acha que eu ia conseguir parar para fazer Yoga? Não dava! Eu gostava era de Artes Marciais, sempre gostei. Fazia Tae-Kwon-Do, Box Tailandês...”

Ao dizer isso, eu pensei que as Artes Marciais também continham sua parte filosófica, mas eu não estava tão interessada nessa parte, na época. Eu gostava de lutar, de me sentir forte, guerreira.

Lembrei-me novamente das minhas práticas atuais de Yoga, e meu espírito foi acometido novamente por este leve torpor, esta brisa suave, esta sensação de infinita paz... Continuei o meu relato,

“Meu querido... Eu estou pedindo a você para nós avançarmos na prática da Yoga, porém eu não me importo com o grau de dificuldade das posturas. Eu sei que muita coisa eu terei grande facilidade para realizar. E que, tantas outras posturas, eu precisarei de perseverança e paciência para alcançar. Não me atenho à superficialidade de querer provar para ninguém nem para mim mesma que sou capaz de realizar este ou aquele asana... O que importa para mim, na Yoga, é eu estar inteiramente, absolutamente entregue à prática... Seja na postura mais simples que for... Eu sei que o Surya Namaskar é uma sequência extremamente simples... Mas eu sinto que o tempo e o espaço não existem mais quando eu estou praticando a seqüência...”

“Me fale mais sobre isso,” pediu-me meu companheiro.

“Lembra aquela vez que nós tivemos uma experiência em “sonho” muito parecida, poucos meses atrás? Quando nós sonhamos que estávamos completamente serenos, fora das preocupações, totalmente livres do estresse, vivendo apenas plenamente e tranquilamente o aqui e o agora?”

“Lembro... Nossa, foi tão imensa a sensação de paz...”

“Então, meu amor... É assim que eu me sinto quando estou praticando Yoga... Eu me sinto perfeitamente serena, plena, em paz... Não penso em nada do que fiz antes, e nem no que tenho que fazer depois... Eu simplesmente estou ali... E sinto todos os meus centros de energia (chakras) se abrindo e aquela energia celestial fluindo através de todos os meus canais de energia... É algo mágico, transcendental... Que realmente transcende o tempo... Eu entro apenas no Aqui e no Agora... e isso é como viver um segundo de eternidade...”

“Nossa, que relato intenso...”

“Eu fiquei tão concentrada hoje quando fiz o Surya Namaskar, amor, que me lembro exatamente de todos os segundos das seqüências que eu fiz! Eu me lembro do momento em que levantei as mãos para começar a prática. Me lembro de cada movimento que fiz enquanto baixava as mãos, me lembro de quando as minhas mãos tocaram o chão... Me lembro de cada inspiração e expiração... Me lembro de quando levantei o rosto para a frente, e me deparei com o espelho que estava diante de mim... E eu vi aquele brilho especial no meu olhar... É difícil de explicar, mas você já deve ter sentido isso, com certeza... Sabe quando você olha no espelho e vê aquele seu Eu Superior? Aquela melhor versão de você mesmo?”

“Sei...”

“Então... Quando eu me olhei, eu estava absolutamente consciente daquele segundo, de minha Consciência Superior...Eu sabia que eu estava na academia de ginástica, eu sabia que havia outras pessoas no ambiente, eu lembrava de onde tinha vindo – de casa – e para onde iria mais tarde – trabalhar em Botafogo, - mas isso tudo era um assunto que seria deixado para o seu tempo conveniente. Ali, naquele instante, em cada segundo precioso daquele que compunha o momento do meu Surya Namaskar, eu estava tão somente ali... Não havia pressa nenhuma em alcançar a postura seguinte. Não havia pressa nenhuma em começar nem em terminar nada. Eu apenas sentia todo a cada micro movimento, sentia a energia fluindo pelo meu corpo... E, eu me sentia Super Consciente de mim mesma... não da minha conexão com o Plano Superior... Mas eu me sentia Superior... Não superior a ninguém. Na Yoga nunca existe competição, as competições que eu tanto apreciava quando lutava Tae-kown-do. Na Yoga, a competição é com nós mesmos... Mas uma competição branda, suave. Melhor, muito mais apropriado seria utilizar o termo Superação. Isso! Super + Ação = Ação Superior. É assim que eu me sinto quando faço Yoga...”

“É algo bem particular... Bastante profundo, querida. Fico muito feliz de trazer a Yoga para você. Quem sabe nós já nos encontramos em algum ashram no astral antes de reencarnamos?” arriscou ele.

“Não duvido nada!” concordei.

“Querida, você está me falando da sua bonita experiência, e eu estou aqui me lembrando de quando eu comecei a praticar Yoga... quando eu tinha trinta e três anos de idade...”

“A idade que eu tenho agora e que estou começando na Yoga!” vibrei.

“Nossa! Que interessante coincidência!”

“É... Nós estávamos destinados a nos iniciarmos na Yoga aos trinta e três anos. Que bonito isso... Mas continue me contando as suas memórias,” pedi.

Meu lindo filósofo contou-me mais, “Eu me lembro de quando eu trabalhava no alto da montanha, na Pedra do Sino, há 2.500 metros de altitude, no Parque Nacional da Serra dos Órgãos de Teresópolis... Eu tomava conta do abrigo dos alpinistas naquela época. Eu ficava muitas horas parado lá, e precisava sempre levar algo para ler. Foi quando então uma grande amiga minha, instrutora de Yoga, me emprestou o livro do professor Hermógenes, o “Auto-Perfeição com Hatha Yoga.... Eu comecei a ler e a praticar Yoga lá em cima... Tinha um coiote que aparecia por lá de vez em quando e ficava me espiando... Eu tinha uma conexão muito grande com aquele lugar... Eu tenho uma conexão muito forte com a Natureza...”

“É por isso que nós temos tamanha afinidade, meu lindo...” eu disse, com um sorriso na voz.

“É verdade, meu docinho de limão,” concordou ele.

“Linda a forma como você iniciou a sua caminhada na Yoga, meu lindo,” falei. “Eu conheço algumas pessoas que começaram também assim, porque leram este livro do Hermógenes! Em pensar que eu tive a oportunidade de praticar com ele... Mas, tudo bem! Tudo tem o seu tempo certo, a sua hora certa! Estou feliz porque é você quem vai me fazer essa transmissão. Sinto que este será o modo perfeito para a Yoga fazer parte de vez da minha vida...”

“Fico tão feliz de poder te fazer essa transmissão... Me dá um prazer muito grande.”

Continuamos conversando e meu lindo acabou dando com a língua nos dentes que havia comprado o livro “A vida secreta das plantas” para me dar de presente! Oba!! Vou pegar na quinta-feira, quando estarei de novo com ele para fazer uma aula de Yoga. Fiquei enormemente entusiasmada com o livro! Mal posso esperar para ler!

Lembro-me de quando estávamos passeando juntos, este domingo que passou, meu lindo e eu, lá em Ipanema... Nós caminhávamos por entre as árvores e eu contava a ele que havia alguns anos eu estava interagindo de uma forma deveras especial com o Reino Vegetal. Contei a ele que desde que minha irmã gêmea e eu estivemos à frente do Projeto Vila da Árvore, que acabou plantando nem sei quantas árvores na Zona Norte do Rio, toda vez que eu passava pelas árvores da cidade, eu sentia que elas me “reconheciam”. Sim, elas me saudavam!

Eu sentia que podia conversar sobre isso com o meu filósofo, porque ele iria me entender. Primeiro porque ele era um homem da Montanha. Segundo porque havia experienciado com respeito a força da Ayuaska, e tinha visto tal interação com os próprios olhos, desprendido em outra dimensão.

“O primeiro dia que eu senti uma interação muito forte com o Reino Vegetal foi no dia em que estávamos indo plantar a primeira árvore do nosso projeto,” falei. “Eu segurava a Mungubinha, e eu podia sentir a felicidade dela, ali no meu colo! Era como se ela fosse uma criança!”

“Interessante...”

“Depois que nós continuamos plantando árvores e nos importando com elas, saindo para regar, vendo se os moradores estavam cuidando bem delas, eu passei a sentir que, quando eu passava pelas ruas, todas as árvores estavam emanando um carinho imenso para mim. É claro que na época, anos atrás, eu pensava que podia ser coisa da minha cabeça. Porém, depois que entrei no curso de Fitoterapia, estou aprendendo que não era coisa da minha cabeça, não. Que era verdade! O Reino Vegetal sente, se emociona, e interage com os homens de uma forma muito mais profunda do que poderíamos imaginar, presos a esta vida apressada e louca que se tornou a vida “moderna”!”

“Continue...” pediu o filósofo.

“Pare, meu lindo,” pedi, puxando-o pelo braço e fazendo com que ele ficasse parado. “Sinta a energia das árvores para nós... Elas estão vivas, muito vivas! Conscientes! Eu posso conversar com elas! Elas sabem quem sou eu! Me chamam de algo parecido com “a protetora das árvores” ou “a amiga das árvores”. Eu me emociono muito com o carinho delas por mim...”

“É muito forte a sua experiência, minha querida...”

“É algo que vai muito além das palavras... Eu já tentei escrever sobre tudo isso, porém não obtive sucesso... As palavras chegam a ferir a realidade... de tão pobremente insuficientes para descrever toda essa magia... toda essa vivacidade!”

Meu lindo abraçou-me e fizemos aquela troca energética maravilhosa através de todos os nossos chakras. Que abraço intenso, delicioso!

“Você é um homem maravilhoso... Eu amo você...” vibrei eu, em pensamento, e regojizei-me de felicidade ao sentir o amor refletir-se de volta.

O amor, Diário... O amor é tudo nessa vida!


Namastê,

Atma :))