O APEGO DOS DESENCARNADOS.

O DIÁRIO DE ATMA – O APEGO DOS DESENCARNADOS.





Om Sai Ram, Querido Diário!



Hoje é aniversário de Sathya Sai, aquele que foi minha mãe e pai espiritual nesta encarnação. Sem todos os ensinamentos que recebi na Organização, eu seria hoje uma pessoa totalmente diferente. Cada ensinamento foi uma semente plantada em solo fértil (todas as almas são férteis!). Algumas sementes já abriram, despontaram e até desabrocharam. Outras estão ainda aqui, semi-adormecidas em mim, esperando o momento certo. Obrigada por tudo, Swami... É uma bênção enorme ter a possibilidade de aprender a servir...



Hoje eu comecei o dia ouvindo o Brahma Arpanam aqui pelo site da Organização Sai. Fiquei ouvindo a voz de Swami cantando... E só depois vi, pela tela do computador, que hoje é dia 23 de novembro, dia do aniversário de Swami! Om Sai Ram!



Vamos ver se a minha vó fica mais calma hoje. É, Diário. A minha vó desencarnou e, a princípio, ela havia sido levada pelos nossos familiares de Minas, mas, por apego, ela voltou. Ela está aqui agora. (Vou colocar mantras para ela ouvir.)



Semana passada, eu resolvi que já fazia muitos meses que minha vó havia desencarnado, e achei por bem retirar os sapatos e roupas dela do armário lá de fora e doar as roupas que ainda estavam em bom estado para um asilo. Eu estava sozinha aqui em casa, e procurei ter uma atitude respeitosa ao fazer a modificação energética necessária. Mas, Diário, começou a me dar uma crise de choro tão grande que eu desconfiei se era só eu mesma chorando... Era uma tristeza... Uma angústia... Um negócio!



Continuei rezando e fazendo a arrumação necessária, chorando e rogando a Deus para nos ajudar... Sim... Eu já começava a desconfiar que havia atraído o espírito de minha vó para perto de mim naquela hora, porque eu estava mexendo nas coisas dela.



No fim do dia, eu já havia retirado tudo do armário e da sapateira, tendo o cuidado de deixar as Bíblias dela em casa, de recordação. Eu até tentei colocar as bíblias em uma sacola e doar também para o asilo, mas algo me impedia e eu as retirava da sacola de novo e devolvia-as para dentro da gaveta do armário.



A semana transcorreu e eu passei os dias sentindo leve tristeza me rondando, mas que, pela ESCOLHA DA MINHA VONTADE, esforçava-me para me desvencilhar desta energia, e passava a fazer exercícios de visualização criativa positiva para substituir tais emanações oriundas do espírito de minha vó.



Olha só que contra-senso, Diário! A minha vó passava o dia todinho aqui lendo “Alegria e Triunfo”, “Poder e Recompensa”, livros de lei da atração, Bíblia, livros espíritas, e agora que desencarnou parece que esqueceu tudo que lia e pregava! Ah, peralá!



Bem, a semana passou e minha mãe voltou de Miguel Pereira, com aquele costumeiro ar de reclamação 24 horas por dia. Eu sabia que ela ia criar o ambiente propício para a minha vó se aconchegar de vez, porque ela também adorava um ambiente de reclamação. A gente sente falta de ter estímulos e precisamos deles, mesmo que sejam só estímulos negativos.



No dia que minha mãe voltou (minha mãe é médium tele cinética, que proporciona efeitos físicos), eu falei, pronto, agora a minha vó vai botar pra quebrar. Não deu outra! É um tal de vulto branco passando pra lá e pra cá, coisas estalando na cozinha, lâmpada queimando toda hora. E eu estou quieta na minha, só olhando. A vibração das duas unidas é algo tão denso e pesado, que eu não suporto ficar próxima a elas. Elas estão sempre grudadas uma na outra, unidas pelos laços do praguejar e da reclamação.



Eu fui dormir, me isolando o máximo possível da energia delas. Fui dormir na sala, fechando a porta! Queria ficar sozinha, em paz. Coloquei um CD para tocar, um incenso, abri as janelas e adormeci, tentando esquecer todas as vezes que vi minha vó passando pelo corredor da casa, da sala para o quarto, do quarto para a cozinha.



“Meu Deus do Céu! O que é que minha vó ainda está fazendo aqui?” pensei eu, mas pensei cá comigo o quanto devia ser difícil arrumar para onde ir quando se está demasiadamente acostumado a um só lugar.



Dormi feito anjo. Lá pelas tantas da madrugada, entretanto, me ocorreu aquele efeito “chiclete”: abri os olhos, como se fosse acordar, só que não acordei no plano físico, mas sim no plano astral. O lado direito do meu corpo ficou todo eletrizado, e eu não podia me mexer (porque ainda não sei lidar bem com essa eletricidade).



Adivinha quem estava de pé na sala para ter uma conversinha comigo, Diário! Ela mesma, minha vó! Ela já veio toda cheia de atitude, reclamando comigo,



“Ô, Atma! Por que é que você tirou todas as minhas coisas do armário?!” questionava ela, um tanto irritada.



Tentei me ajeitar no sofá, mas não consegui mexer meu corpo. Falei só com o espírito mesmo,



“Ué,vó! Você desencarnou! Não precisa mais dessas roupas físicas... Você não leu meus pensamentos, não? Eu estava rezando, tirando todas as suas coisas do lugar com o maior respeito. Aqueles objetos não são mais seus, porque não têm nenhuma valia...”



“É...” fez ela, tentando se acalmar e, vendo a minha sinceridade, mudou o tom da conversa, falando agora em voz mais suave, “Tudo bem, Atma! Você pode doar tudo o que era meu, mas aquela Bíblia preta, não! Eu quero que ela fique aqui na estante da sala, de pé, bem à vista! Para proteger essa casa!”



Pensei cá comigo que ela não podia mais ficar dando ordens sobre a decoração da casa, mas não havia mal nenhum em acatar um pedidozinho só. Considerei que, na cabeça dela, ela ia ficar mais tranquila imaginando que a Bíblia ali teria o poder de nos proteger. Quem sabe assim a minha vó ficaria mais tranquila para seguir adiante no caminho dela?



“Tudo bem, vó. Vou pegar a Bíblia e colocar ali na estante, prometo.”



“Ah, bom!” fez ela, mais tranquila.



Sei que é a maior bobagem do mundo, mas confesso que fiquei com medo, mesmo sendo o espírito da minha vó! Assim que consegui fazer o meu espírito voltar a dar ordens para o meu corpo físico, levantei-me e saí correndo para o quarto onde estavam dormindo minha mãe e minha sobrinha Ana Cristal.



Deitei lá, acordando minha mãe, que quis saber o que foi.



“É a minha vó, mãe. Tá me atazanando porque não quer que eu dê a Bíblia preta dela para o asilo,” expliquei.



“Ah, a sua vó... Ela deu esse mesmo recado pela sua prima...”



“Ah, foi?”



“Foi.”



“Então amanhã vamos colocar a tal Bíblia onde a minha vó pediu, tá?” pedi.



“Tudo bem,” concordou minha mãe.



O espírito da minha vó estava de pé na porta do quarto. Ela podia ouvir tudo o que falávamos.


Adormeci com uma prece nos lábios, pedindo proteção. Minha vó zoava comigo, ralhando, "Eu sei que você é medrosa! Se não fizer o que falei, vou voltar todas as noites para puxar o seu pé!" dizia, agora em tom de zombaria.


"Minha própria vó..." pensei, mas, felizmente, senti que ela estava brincando. "Coitada da velha.." pensei.


Senti quando minha vó sentou-se no chão do quarto, perto da bisneta dela.


"Isso, vó... Mata um pouquinho a saudade..." pensei. E logo depois adormeci. Devo ter me desprendido do corpo de novo para conversar melhor com elas. Porém não me lembro de mais nada. Já foi emoção demais para uma noite só.


Ao amanhecer, fui tomar o meu café-da-manhã enquanto esperava a Cristal despertar. Até que ouvi um choro vindo do quarto onde estava a minha sobrinha. Abri a porta, "O que foi, minha lindinha? Está chorando? Está com saudade da mamãe? Mamãe está em Miguel Pereira e logo você vai voltar para lá para ficar com ela, está bem?"


"Não... Não tô com saudade da mamãe..."


"Por que você está chorando, então, meu amorzinho?"


"Porque eu quero ver a bisa!" disse Cristal, com um choro sofrido.


"Hm... Entendi..."


Dei um abraço muito gostoso na Cristalzinha e coloquei-a sentadinha, enxugando suas lágrimas.


"Meu amorzinho, a titia já explicou para você... que a bisa virou estrelinha. Ela está lá no céu. Olha para lá... la está lá."


"Não está, não!" protestou Cristal, e eu sabia muito bem que, mesmo com apenas quatro anos de idade, a menina sabia muito mais das coisas até do que eu mesma...


"Por que você diz isso, Cristal?"


"A bisa brincou comigo."


Dei um abraço nela. "É porque agora a Bisa vive no mundo da imaginação! Sempre que você dormir, poderá ir para o mundo da imaginação e brincar com ela, está bem?"


"Oba!" vibrou a Cristal. "Eu quero continuar brincando com a bisa!"


"Ela tinha muita paciência com você, né, Cristal? Ela brincava de boneca, de panelinha, ensinava um monte de coisas para você... Não é?"


"É..." fez a pequenina, lembrando de toda a atenção e carinho que a bisa dava para ela.


"Mas agora vamos tomar um café-da-manhã bem gostoso porque hoje vamos andar de bondinho!"


"De bondinho, titia?" animou-se a pequena, dando um salto da cama.


"Isso mesmo, vamos fazer um passeio diferente!"


"Eba!" vibrou a Cristal, dando um pulo no meu pescoço e me dando um abraço bem apertado e gostoso. E fiquei imaginando o quanto seria doloroso para mim também ter que deixar de conviver com a Cristal, e com todas as pessoas de quem eu gosto... E me deu uma compreensão pela situação da minha vó...


Mas... ao mesmo tempo, pensei em quantas paragens maravilhosas não existem por esse mundão afora aí... Quantos mestres, quantos aprendizados, quantas novas amizades, quantas almas espetaculares ainda há para se conhecer e, a cada dia, fazer a escolha de ser feliz.


Ah, Diário... Como a vida pode ser bem mais leve e bela se escolhermos assim... Que Deus nos ajude e nos dê compreensão.


Om Sai Ram!


Atma.