SAN JIAO

Oi, Diário.

Quando estamos aprendendo uma matéria nova (no meu caso, relembrando a Acupuntura), sempre tem alguns detalhes mais difíceis de compreendermos seu significado mais profundo. Até ontem à noite, uma das dificuldades que eu tinha era de compreender o significado do San Jiao, os três fogões que mantêm o “fogo da vida” aquecido.

É um mistério o San Jiao...

Quando ontem ajudei a minha irmã a vestir o corpo da minha vó (colocamos um vestido de festa nela), o corpo já estava gelado. O rapaz da funerária tinha muita habilidade mas, com o corpo já dentro do caixão, nós precisamos ajudá-lo. Por sorte o corpo ainda não estava tão duro a ponto de não podermos movimentá-lo.

Enquanto eu tocava o corpo gélido da minha vó, só então... só então eu realmente senti a ausência do fogo da vida... a ausência da energia San Jiao!

Estou prestes a completar trinta e três anos e esta foi a minha primeira experiência direta com a morte de uma pessoa tão próxima a mim. Eu não sabia qual seria a minha reação diante do fenômeno morte, porém te digo que em momento algum me senti contra a vida, nem raiva de Deus ou algo assim. É estranho... Foi totalmente ao contrário. Sinto uma paz imensa... Uma certeza ainda maior nos mistérios da vida...

O San Jiao também é chamado de “Triplo Aquecedor”. Mas lá na escola onde eu estudo (a Neijing) chamamos o San Jiao de “três fogões”. San Jiao é o fogo que continua animando (mantendo) a vida. Você pode pensar em termos de processos metabólicos. Pense no San Jiao como três fogões que matem o fogo da vida aquecido.

Ontem eu senti a ausência do San Jiao nas minhas mãos... e senti a força de seu mistério! De onde vinha aquela força de vida? Para onde seguia o calor? Que espécie de lei nos rege durante toda a vida para manter os nossos caldeirões funcionando? O que mantém o caldeirão produzindo constantemente energia? Não estou falando fisiologicamente... Estou falando dessa energia mais transcendental que realmente aquece a chama da Vida...

Hoje cedo, a primeira coisa que eu pensei assim que abri os olhos e puxei uma quantidade maior de ar para dentro dos meus pulmões foi no San Jiao. “Claro! O fogo que mantém a vida...” E comecei a pensar na aplicação prática dos pontos de Acupuntura neste trajeto de energia. Sei que existem alguns pontos que servem para uma espécie de estímulo nessa energia.

Peguei meus cadernos de Shiatsu do ano passado. Peguei também todas as apostilas sobre canais e trajetos sutis da energia pelo corpo. Procurei a parte que explicava sobre o San Jiao.

Nas apostilas, reli que o trajeto mais superficial desse canal sutil se inicia no quarto dedo anular (que, no curso de bioletrografia, aprendi ser ligado à glândula hipófise... que chamam também de “morada da alma”), passa pelo dorso da mão, vai subindo pelo braço, cruzando com a energia do Intestino Delgado na altura do ombro, depois sobe pela lateral do pescoço até próximo da ponta da mandíbula, contorna a orelha e sobe até uma depressão na ponta da sobrancelha.

Já o trajeto interno do San Jiao é bastante complexo. Na região supra escapular (esses ossos grandes que unem o osso do braço ao tronco e que parecem formar asas), o San Jiao se une a um outro canal de energia chamado Du Mai (depois explico o Du Mai), depois retorna para o ombro, cruzando com o canal da Vesícula Biliar. Depois segue para a fossa supraclavicular (uma fossa imediamente acima da clavícula). Depois, penetra e vai para o meio do tórax, onde se une à energia do pericárdio. Então desce através do diafragma até o abdome onde se conecta com os aquecedores Superior, Médio e Inferior que constituem o Triplo Aquecedor, ou as Três Caldeiras – o San Jiao. Só então a energia do San Jiao cruza com o canal de energia da Vesícula Biliar, indo para a região da ponta do maxilar, onde contorna a orelha e vai para a região maxilar e alcança o olho.

É bom que eu vou aproveitar para repassar toda essa matéria. Descobri que ainda havia algumas tantas folhas soltas com conteúdo para passar a limpo em meu caderno.

Sentei-me em meio a todo aquele conteúdo teórico e senti uma vontade imensa de simplesmente fechar os olhos, deixar a minha coluna bem reta, respirar... respirar... o sopro da vida... e sentir toda essa energia que chega até mim pelo topo de minha cabeça, enchendo-me destas pequenas fagulhas de benéficas energias... sentindo o calor do meu corpo... a chama que anima a Vida.

Depois debrucei-me mais uma vez sobre os estudos e, devagar e silenciosamente, me permiti mergulhar com toda a tranquilidade no mundo naquele universo infinito que é o estudo da Acupuntura.

Deixa eu estudar mais um pouco agora, Diário.

Amorosamente,

Atma