Sai pra lá, chupa-cabra!

Diário, como tem gente chata no mundo.

A minha irmã acabou de me ligar, mas falei para ela dar um jeito naquele problemão que ela arranjou.

Vou te contar o que aconteceu.

Minha irmã Angélica se mudou para Miguel Pereira. Lá, fez “amizade” com uma garota, para fazer caminhadas, andar de bicicleta e tal, na hora que as crianças estivessem na escola.

No início, estava tudo às mil maravilhas. A Verônica telefonava para a casa da Angélica lá pelas oito da manhã, para confirmar se estava tudo certo para a caminhada.

“Claro. Combinado!” respondia minha irmã.

Lá pelas dez, a Verônica se lembrava de mais algum assunto urgente e ligava de novo. “Angélica, eu escrevi uma poesia nova. Preciso mostrar para você! Escuta só... e lá vinha: meia hora de conversa no telefone! Depois de muito sufoco, minha irmã conseguia desligar, explicando para a Verônica que ela precisava fazer o almoço.

A Verônica ficava meio aborrecida com o corte da conversa, mas acabava entendendo, e sugeria, “Ah, então que tal eu ir almoçar hoje aí com as crianças? Depois a gente despacha todo mundo para o colégio e saímos para caminhar.”

Angélica, com vergonha de negar, ia deixando, deixando.

E a Verônica foi se instalando, instalando, cobrando cada vez mais atenção, e sufocando a vida da minha irmã como se fosse uma enorme tarântula negra!

Agora, em vez de amiga, a Verônica é uma chata de galocha de quem a minha irmã tenta fugir o dia inteirinho! Já pensou até em se mudar de casa, só para não ter que encontrar mais a “sangue-suga” na rua.

O pior é que esse tipo de vampira energética não-se-manca! Não adianta conversar, dizer que naquele dia você tem outras coisas para resolver, que você não pode ficar pendurada no telefone com ela três vezes ao dia de blá blá blá.

Esse tipo de gente não quer a sua companhia para alguns momentos somente. Essa gente quer a sua alma, a sua energia! Essa gente tem um buraco muito grande dentro do peito, ou sei lá onde, e eles querem preencher esse buraco com a SUA energia!

Eu já passei por esse tipo de amizade grudenta e por isso compreendo a dificuldade que a Angélica tem de dar um basta na situação. Eu mesma levei anos até conseguir me desvencilhar do Gabriel. Eu tinha pena dele. Como ele era chato, ninguém gostava dele. As pessoas o evitavam. Eu achava que se eu não desse atenção a ele, ninguém mais ia dar, tadinho. Também não era assim. Eu tinha que ser compreensiva, humana. Tolerante com as pessoas. Mesmo que o Gabriel não respeitasse o meu tempo. Mesmo que o Gabriel me azucrinasse o dia inteiro. Mesmo que o Gabriel me chantageasse de todas as maneiras, cobrando a minha total atenção única e exclusivamente para ele. Ele precisava tanto da minha atenção, dos meus conselhos, poxa. Era de mim que ele queria saber o que eu achava. O que eu achava disso, o que eu achava daquilo. E eu fui me deixando levar, sendo zumbizada por aquela larva astral encarnada que tinha se encrostado em mim!

Ao telefone, infelizmente a única coisa que eu podia falar para a minha irmã era, “Angélica, eu acho que a única coisa que você pode se perguntar é: você tem pena da Verônica. Pena de ser clara com ela e dizer o quanto ela é uma pessoa entrona e inconveniente. Mas e de você, Angélica? Ela tem pena?”

Diário, sou obrigada a rir da situação em que a minha irmã se enfiou, refugiada dentro da própria casa! (haahahhhaa) Sabe o que ela está fazendo lá agora, nesse exato momento? Fechou todas as cortinas da casa, apagou as luzes da cozinha e da sala (para a Verônica não ver que ela está em casa) e está dentro do banheiro da casa dela escrevendo!!! (hahahahahahahahaa!!!!) Isso tudo porque a Verônica não-con-se-gue-em-ten-der que a Angélica hoje não quer passar o dia com ela, que ela quer ficar fazendo uma outra coisa que ela também gosta muito (além de andar de bicicleta e dar atenção para a Verônica): escrever em paz!

Haahahahahah! Diário! Só rindo para não chorar! Vamos torcer que minha irmã consiga se livrar daquele chupa-cabra.

Agora deixa eu ir lá fazer as minhas coisas.

Beijos!

Atma