Diário!
Como eu me divirto com meus amigos bruxos! É maravilhoso passar uma tarde entre eles! A conversa realmente é de-ou-tro-mun-do!
Lembro-me das tardes que passei com minhas amigas Esmeralda, Sophia, Pri, bruxo Fleming... e todo o restante do pessoal.
Sentados às margens do Templo de Apolo, com aquela paisagem histórica e natural ao nosso redor, o tom da conversa se dava nos seguintes termos:
“Hoje eu estive em um encontro de bruxos no plano astral,” comecei eu, para não perder o costume. “Era uma gruta, a qual eu tinha que chegar subindo uma escada, que foi bastante difícil de subir,” dizia eu, caprichando nos meus gestos com as mãos e nas minhas expressões faciais e corporais.
Taiza levantou, muito animada. “Eu também estive lá esta noite! Eu vi! Eu vi umas letras de fogo, onde estava escrito o nome do nosso grupo (Círculo Estrela), na entrada da gruta! Mas eu não quis assistir a palestra, fiquei em um outro campo, gramado, além de onde estavam as cadeiras. Mas realmente estávamos todos lá.”
Ane irritou-se. “Eu só queria saber por que é que aquele bruxo imbecil me jogou lá de cima! Eu fiquei tão feliz que tinha encontrado o nosso grupo no astral, que fiquei falando, “Não acredito! Não acredito!” E, quando aquele bruxo me viu, me empurrou da ponta da escada e eu acordei abruptamente no meu corpo físico, cheia de tontura na cabeça!” reclamou ela, enfiando um pedaço de bolo de aipim na boca e mastigando vigorosamente.
Sophia virou-se para ela, “Você prestou atenção ao que você disse quando encontrou a nossa gruta, Ane?” perguntou, e manteve-se parada, fitando-a, e espremendo um pouco os olhos. Eu achei graça imaginando que era o mesmo olhar que ela lançava aos alunos dela de física e biologia na escola onde dava aula.
Ane não havia se dado conta disso, mas a frase veio como um soco na cabeça de todo mundo quando ela falou, “Eu não acredito! Eu não acredito!” Em magia, “não acreditar” é uma das piores coisas que um bruxo pode fazer!
“Eu não acredito!” dissemos todos, em couro.
“Ah...” fez Ane, entendendo onde estava a burrada, deixando os ombros caírem ao lado do corpo. Pegou mais um pedaço de bolo. Eu pensei como ela podia comer tanto e ser tão magra, a danada!
“Mas, e então, o que vocês acharam da palestra?” quis saber eu. Eu tinha achado maravilhosa. Havíamos recebido a visita de um egiptólogo que nos dava sofisticados conceitos de matemática e numerologia milenares... Se bem que... lembrar, eu lembrava. Agora dizer que entendi tudo o que ele dizia... Já seria cara-de-pau da minha parte. Só me recordo bem que o palestrante sacudia muito o dedo indicador e, quando ele fazia isso, ele fazia com que imagens aparecessem, holograficamente, para onde quer que ele apontasse. Tipo essas coisas que os japoneses inventam, sabe? “Será que isso já existe aqui no planeta Terra?” pensava eu.
“Eu não consigo me recordar do que o palestrante dizia,” falou Esmeralda. Eu só percebia que ele estava muito feliz por estar ali e que o tempo dele era muito precioso. Era um privilégio termos conseguido tê-lo ali.
“Ah, tá,” eu disse. E contei a eles o que eu havia me recordado.
“Quem quer experimentar este bolo de maçã com canela?” ofereceu Fleming, desviando a atenção do grupo.
“É receita de bruxo?” quis saber Taiza, só para implicar. Era claro que era!
Todo mundo quis um pedaço, que foi acompanhado de um pequeno cálice de vinho. Afinal, era um dia especial para celebrar! Se havia um motivo especial? Estamos vivos! E em uma roda de amigos afins! Quer razão melhor que essa?
Foi Esmeralda quem retomou o assunto. “Nós precisamos sempre acreditar em nossos sonhos...” suspirou, pegando ainda como gancho o que havia acontecido com a Ane.
“Sim, porque quando temos qualquer tipo de insegurança, isto é um impedimento muito grande para a mágica do Universo operar em nossas vidas,” concordou Priscila.
“Vamos marcar todo mundo de nos encontrarmos de novo hoje na mesma gruta?” sugeri eu. “Agora já sabemos o caminho!”
“Vamos!” todo mundo concordou na hora.
“Basta encontrarmos a escada!” tornou Sophia.
“E o letreiro com letras de fogo!” lembrou Pri.
“Nada de ficar dizendo ‘eu não acredito’, hein, dona Ane?” lembrou Fleming.
“Bem lembrado. Bem lembrado,” concordei eu.
E ficamos falando assim, desses assuntos, a tarde toda, com a maior naturalidade do universo. Pois é esta a realidade onde vivemos...
E eu ficava pensando cá com os meus botões, “Só papo de bruxo!” enquanto os olhava e agradecia ao Universo por eu estar me sentindo tão feliz, rodeada de pessoas que me compreendiam e com quem eu podia verdadeiramente conversar, de bruxo para bruxo!
Beijos encantados, Diário.
Com amor,
Atma