Querido Diário!
Poucas vezes me senti tão feliz quanto no dia que descobri o nome do meu guia espiritual: YOSEF ASTRAT. Significa José que vive no Astral. Algo assim. Parece que é um nome em hebraico. Um nome “raiz”, pode-se dizer assim. Mas eu gosto de chamá-lo de Yosef, meu anjinho.
Na época, eu andava muito amoada com os Céus porque eu precisava arranjar um emprego para continuar o projeto de escrever os ‘meus’ romances espiritualistas. A razão disso é que eu precisava me manter e ainda enviar a metade do meu salário para a minha irmã gêmea Angélica, de modo que ela pudesse passar uma temporada só escrevendo junto comigo, sem precisar trabalhar. (Você não imagina como dá trabalho escrever um romance todinho, Diário! Todo entrelaçado, revisado, com toda aquela escolha cautelosa das palavras... )
Um dia, a Angélica me ligou e disse, “Atma, apareceu um emprego aqui para mim. Mas eu não quero aceitar, não. Porque eu quero, eu preciso escrever esses livros! Como é que a gente vai fazer, Atma?! Em contrapartida, eu não posso ficar sem dinheiro! Tem a Ana Cristal, as contas da casa para pagar.”
Eu falei, “Angélica, não está certo a gente ficar passando aperto para escrever esses livros. Se esse projeto é abençoado pela Espiritualidade, como eu acredito que seja, Deus-Todo-Poderoso vai dar um jeito de nos acudir agora, e vai conseguir um emprego fixo para mim.”
“Mas o que eu faço agora?” perguntou de novo Angélica, meio baratinada. Ela estava dentro de uma cabine telefônica, na beira da linha do trem entre Paty do Alferes e Miguel Pereira. “Volto para a segunda etapa da entrevista de emprego ou vou-me embora para casa terminar de escrever o nosso romance?”
Um longo silêncio se fez.
“Espera só um minutinho aí, Angélica,” pedi. Coloquei o gancho do telefone pendurado no meu ombro e fiquei estatelada, olhando para as nuvens branquinhas no céu, gordas, tão fartas eram elas! E aquele azul, ensolarado! Aquele sol dourado, que a tudo nutria!
Peguei o telefone de novo, “Angélica, você acredita que o nosso projeto dos livros é realmente abençoado?” indaguei, muito séria. Era a vida dela e da minha sobrinha que estavam em jogo!
“Acredito,” ela não vacilou. “Atma, se eu for para esse emprego, vou ter que ficar lá o dia todinho! Os nossos livros vão parar, e por tempo indeterminado! Não terei mais tempo de escrever junto com você!”
Meu estômago embrulhou. Eu sou o coração. A Angélica é o cérebro, o gênio literário. Não dava, nunquinha, jamais, para ficar sem ela. Os livros jamais ficariam prontos sem ela...
“Pois eu também acredito, Angélica. Eu vou te pedir um prazo de sete dias. E estou, neste minuto, fazendo um pedido ao Alto dos Céus: se este projeto é realmente a missão da nossa vida e é abençoado pelos Anjos da Luz, então para Deus nada é impossível... Pois então em sete dias eu terei um emprego fixo em minhas mãos, e terei justamente a quantia que precisamos para continuar a história toda,” firmei, ainda olhando para as nuvens brancas e gordas e para o céu próspero e azul. “E tem outra coisa, Angélica, que eu vou te dizer, e não estou brincando, não. Preste bem atenção: se no prazo máximo de sete dias eu não tiver este emprego, eu vou parar com esse escrevedouro! Porque não está certo isso de eu ficar passando aperto, não! Eu preciso tocar a minha vida. Ter tempo para trabalhar. Sete dias, Angélica. Sete dias é o prazo máximo.”
“Está certo. Esperaremos sete dias!” disse ela, desligando o telefone. Eu não sabia, mas depois da nossa conversa, ela foi direto para casa. Era escrever que ela queria! E ela acreditava em um milagre.
Eu mal desliguei o telefone e me infurnei no quartinho de empregada aqui de casa. Não queria falar com ninguém. Ver ninguém. Sete dias... Eu martelava na minha cabeça. Peguei o meu DVD portátil no meu quarto, alguns DVD´s que um amigo havia enviado de presente e tranquei-me de novo no quartinho.
Eu chorava, nervosa. “Não está certo isso, não... Da gente ficar passando aperto. Tem a minha sobrinha, meu Deus do céu... A minha sobrinha....” Eu chorava.
Entre lágrimas, liguei o DVD e escolhi um dos magnéticos para rodar. Estava escrito “Escola de Mistérios Olho de Horus”. Um documentário que o Guilherme havia baixado no Youtube (muito bom!) e enviado para mim.
De repente, meus olhos começaram a brilhar. Aquele cenário... Tudo, tudo eu reconhecia! Sim, eu havia sonhado! O vento das areias do deserto haviam me contado sobre aquela minha vida... como Sacerdotisa de Cura no antigo Egito!
“Oh, amada Escola minha...” chorei. E aproveitei para evocar, “Ó, poderoso Olho de Horus, aquele que tudo vê! Poder infinito que tudo pode! Envie um Anjo seu para ajudar-me! Preciso de um emprego no prazo máximo de sete dias, para continuar dando ensejo a este meu impulso de vida... a esta energia que me move, que me faz acordar todo dia... Senhor, amado Pai Criador! Ouve a minha prece! Envia-me um Anjo teu! Um Anjo da Luz!”
E depois passei boa parte do meu dia, ainda trancada ali, assistindo os diversos episódios do curioso documentário...
Eis que... três dias depois... o Senhor dos Céus atendeu o meu pedido... e enviou-me Anjo de tamanha candura que jamais poderei esquecer sua luz...
Estava eu deitada no sofá da sala quando então um espírito muito luminoso se aproximou de mim. Eu não podia ver a forma dele, apenas sentia a sua energia. Ele me disse, “Atma! Desperte! Eu vim atender o seu pedido!” e vibrava em intensa alegria.
Meu espírito, desprendido do corpo, sentiu-se jubiloso, porém receou-se, “Ora, mas vem cá. Quem é o senhor que me vem assim oferecendo tal ajuda? Eu não aceito auxílio de qualquer um, não. Qual é a procedência do seu espírito?” quis saber.
O Anjo não se abalou. Em um milésimo de segundo, colocou em minha mente toda a informação que eu havia solicitado e, em um só flash, eu assisti (como a um filme) a história da vida dele.
Eu vi... um menininho desamparado... que era acolhido pela minha vó... Esse menininho estava tão triste... E a minha vó era tão pobre... Mas mesmo assim ela acudiu o rapazinho.
Eu olhei a cena e, mesmo tão rápido, pude sentir intensamente tudo o que ocorria. Eu estava absorta naquele ato de bondade de minha avó, quando o espírito bradou em harmonia, “ATMA! O AMOR COM AMOR SE PAGA! E O AMOR SE PROPAGA!”
E então eu entendi o por quê da ajuda vir dele... E aceitei-a de pronto!
Mais uma vez veloz como um raio de luz, ele me deu o nome dele, “EU SOU AQUELE A QUEM VOCÊ VEM CHAMANDO DE YOSEF ASTRAT! EU JÁ ESTAVA AJUDANDO VOCÊ. E CONTINUAREI TE AJUDANDO! LEMBRE-SE SEMPRE: O AMOR COM AMOR SE PAGA E O AMOR SE PROPAGA...É POR ISSO QUE HOJE EU ESTOU AQUI PARA AJUDAR VOCÊ!”
“Oh... Yosef! Então é você?” Meu coração seguiu descompassado, batendo muito rápido. Que emoção! Que alegria! Era ele! O Anjo a quem eu vinha chamando de “Yosef Astrat”, mas sem conhecer a sua origem! O Anjo quem me havia colocado de volta em meu caminho sagrado de cura... Que me ajudou a tudo relembrar...
Tentei alcançá-lo com as mãos, mas, só de brincadeira, ele se transformou em um vapor e se desfez dentro da imagem do relógio da cozinha, fazendo alusão ao nome do romance que eu escrevia junto com minha irmã (Os Anjos não usam Relógio, que será lançado muito em breve!)
Voltei para o corpo físico imediatamente e, nem tinha me acoplado direito ainda, já estava de pé no meio da cozinha, onde minha mãe e minha vó passavam o café da manhã.
“Ei, vó! É verdade que você uma vez pegou um menino para criar? Um menino que estava desamparado?”
Minha vó não teve tempo de responder, porque minha mãe se intrometeu na frente, “Não lembro de nada disso, não...”
Entretanto, a minha vó jamais esqueceria. “Ah, que isso, Sônia! Eu me lembro, sim! Você não se lembra daquele menino que o pai dele morreu? O José...”
“Mas quem era o José, vó?” quis eu saber, aflita. “O José era o menino, ou era o pai do menino que morreu?”
“O José era o pai! Era o pai do menino!” disse a minha vó, com os olhinhos brilhando, contentes, por lembrar do ocorrido.
“Ah, vó! Pois então eu tenho um recado do José para você! Ele pediu para eu te dizer que ele será eternamente grato por você ter acolhido aquele menininho, e ele falou que está me ajudando e vai me ajudar! Porque o amor com amor se paga, e o amor se propaga!”
Minha vó disfarçou uma lágrima que insistia em querer rolar pelo canto do olho. “Ah, ele falou isso, é? Você ouviu isso, Sônia??”
“Nossa, ele já mandou esse recado antes pela tia Zezinha, não foi, mãe?” perguntou minha mãe, agora recordando-se do causo inteiro.
“Foi, sim. Ele já tinha me mandado este recado, de que seria eternamente agradecido,” confirmou minha vó.
Pois bem. O clima na casa das italianas, nesse dia, foi muito suave, como não era costume. Ninguém brigou. Ninguém discutiu. Minha vó ficou esperançosa de que eu ia arrumar um emprego. O José havia de me ajudar.
Naquele mesmo dia, eu reencontrei na rua um amigo que eu não via tinha mais de dez anos. O nome dele é Angel, olha que engraçado! Ele é acupunturista, shiatsuterapeuta. Resumindo a história: no prazo de sete dias, o Angel me conseguiu uma colocação em uma empresa de Qualidade de Vida, onde passei a receber a remuneração que nos era necessária para finalizar o que chamamos – com toda razão – de “Manuscritos da Luz Divina”.
Ah, Diário... O Yosef está aqui comigo agora... Enchendo o meu espírito de júbilo e de alegria...E ele está repetindo (em vibração, porque ele sabe que eu gosto) aquela frase bonita, “O amor com amor se paga, e o amor se propaga”.
A morte não existe, não, Diário. Existe nada! Está aqui o Yosef que não me deixa mentir. Nesse exato momento a minha vó está lá no leito do hospital, tadinha, ninguém nem sabe se ela vai se recuperar.
Mas, quando chegar a hora de ela partir, ficará a memória de que um dia ela foi capaz de repartir um pedaço de pão e meia dúzia de ovos com um menino (e a mãe dele!!!) que não tinha para onde ir nem o que comer. Minha vó, que era merendeira de escola pública, Diário! Mas ela me deixou esse TESOURO... Esse tesouro incalculável que é este ensinamento que apenas um Anjo pode vivenciar. Apenas um Anjo de verdade...
O amor... O amor é o que vale a pena nesta Vida...